Leila Coimbra, da Agência iNFRA
Usando um modelo matemático detalhado, que leva em conta também a representação da produção das energias renováveis, junto com a hidrologia, a equipe da consultoria PSR fez simulações para os riscos de um racionamento de energia no país em 2021.
Os testes apontaram que, se o crescimento da demanda de energia for de 6% em relação a 2020 – quando houve retração por conta do início da pandemia –, o risco é de 20% nas regiões Sudeste e Sul. Caso ocorra uma alta de 9% do consumo, as chances de racionamento sobem para 29%.
Os dados fazem parte da última edição do Energy Report, enviado aos clientes da PSR na última terça-feira (6), e repercutiram no setor.
“O risco indica que um evento pode ocorrer, mas não necessariamente que vai ocorrer”, disse o CEO da consultoria, Luiz Barroso, à Agência iNFRA. “Existem ações adicionais de gestão por parte do governo que podem ser decisivas para assegurar que o ‘pode’ não se transforme em ‘vai’”, completou.
CREG
Diante das simulações feitas, se as ações do governo para mitigar a crise forem bem-sucedidas, os riscos caem bastante, para dentro dos níveis de planejamento, da ordem de 1% a 3%, o que garantiria o abastecimento.
“É uma situação que exige cuidados, mas temos vários recursos que contribuem para a segurança de suprimento, tais como: reservatórios mais confortáveis nas regiões Nordeste e Norte; um perfil de oferta diferente dos outros anos de crise hídrica, com maior participação térmica e renováveis, e maior capacidade do sistema de transmissão”, afirmou Barroso.
Além disso, o governo criou recentemente a CREG (Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidroenergética), com a edição da Medida Provisória 1.055, com autoridade para atuar na gestão do uso das águas das bacias hidrográficas, uma medida importante para o enfrentamento da atual situação de escassez hídrica, lembrou o executivo.
A câmara de gestão hidroenergética também pode desempenhar papéis importantes pelo lado do aumento da oferta, com a entrada de nova geração emergencial, ou mesmo pela redução voluntária da demanda.
“As ações do governo são essenciais e já estão em andamento. Há ações já tomadas, como a busca por nova oferta, importação de energia dos países vizinhos e resposta pela demanda, e aquelas que podem ser tomadas pela CREG, como a atuação na gestão dos usos múltiplos da água, seja em defluências mínimas como em volumes mínimos de reservatórios”, pontuou o presidente da PSR.
Perigo na ponta
As simulações mostraram que há o risco de suprimento de ponta, que mesmo com ações do governo ficam em um patamar um pouco desconfortável. “O suprimento de potência em 2021 ainda inspira bastante cuidado, mesmo após as ações da CREG. O risco de ‘atenção’ na capacidade de suprimento de ponta varia de 5,6% a 8% dependendo do crescimento da demanda mesmo após as ações da CREG”, diz o texto do Energy Report.
O relatório aponta algumas manobras operativas que poderiam ser utilizadas para o gerenciamento dos riscos de ponta como, por exemplo, a operação do sistema de transmissão acima dos limites de confiabilidade.
Reservatórios
Nos cenários onde o suprimento foi normal, a probabilidade de chegar com reservatórios em novembro entre 10% e 15% de armazenamento na região Sudeste é de 8,4%, segundo o relatório da PSR.