Recuperação da carga deve ocorrer até 2022, antes do que prevê ONS, avalia CEO da Thymos

Guilherme Mendes, da Agência iNFRA

Na semana passada, o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), a EPE (Empresa de Pesquisa Energética) e a CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica) pediram revisão para a carga de energia do SIN (Sistema Interligado Nacional). Em documento enviado à ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), os agentes apontaram que o Brasil pode ter uma queda na carga de até 5 GW médios pelos próximos cinco anos, o que traria impactos diretos nos leilões de energia, planejados pelo Executivo e esperados por investidores.

O presidente da Thymos Energia, João Carlos Mello, entende que a recuperação pode ser mais rápida. Em entrevista, ele concorda com a análise dos órgãos públicos de que o ano de 2020 será de busca por uma recuperação da carga energética do país, mas que o horizonte pode ser de expansão, caso previsões de crescimento do PIB mais “ousadas” na casa de 4%, se concretizem – o operador apresentou à ANEEL previsões de crescimento de até 2,9%, em 2024.

Em entrevista à Agência iNFRA, Mello também apontou que a recuperação do consumo ainda em 2020 parte de um cenário moderado, no qual a fase mais aguda da pandemia dure mais 45 dias. Tal retomada, porém, não seria suficiente para tornar o consumo deste ano maior que o do ano passado. Abaixo, trechos da entrevista:

Por que o senhor avalia as previsões do ONS como pessimistas? 
O ONS, a EPE e a CCEE usam um cenário em que temos esta falta de crescimento em 2020 por causa da Covid-19, e a revisão anterior apresentava um empate, a carga de 2020 empatando com a carga de 2019. Nesta [nova revisão], mais baixo que 2019, chegando no final do ano com uma carga menor do que aquela do ano passado. É um ano realmente perdido.

E 2020 estamos juntos nesta perspectiva. Só que, na sequência, há uma reversão sobre como seria o PIB de 2021, 22, 23 e daí para frente. E essa perda em 2020 fica registrada, na previsão do ONS/CCEE/EPE, de maneira perene até 2024. Com isso, deixaria de se crescer 5 GW médios, como previsto, ficando-se assim até o final do período, em 2024. A hipótese deles é que não haverá PIBs extraordinários em 2022 e 2023, uma recuperação mais forte.

A expectativa é de um PIB mais forte, então?
Meu ponto de vista, do Wilson [Ferreira Jr., da Eletrobras, presente com ele a uma live na quarta-feira, 13, em que o tema foi debatido] e de outros é que talvez haja uma recuperação mais forte do PIB, muito baseada em investimentos de infraestrutura e similares, mobilizando mais a economia.

A gente entendeu que talvez haja um cenário melhor que o previsto pelo ONS, porque seria um cenário de recuperação com PIBs mais ousados, vamos dizer assim, em 2021 e 2022. Passando esta crise, a análise do ONS é de PIB na casa de 2%, e apostamos em PIBs mais fortes para o período.

E mais fortes quanto?
4%.

A mesma expectativa de recuperação vale para o PLD e o preço de mercado?
O PLD (Preço de Liquidação de Diferenças) é de uma influência de seis meses a um ano para a frente. Houve uma queda extraordinária, em relação ao que prevíamos em janeiro – e essa mesma cotação que fizemos em janeira e é revista toda semana, despencou à metade hoje. Por conta de uma hidrologia mais ou menos boa, perto da média, e a questão do próprio mercado, o PLD desabou, e os preços de mercado desabaram em 2020.

Mas se percebe, ao se analisar uma cotação em janeiro e uma agora, uma queda brutal em 2020, uma queda menor em 2021, e em 2022 quase não há queda nenhuma. Em 2023 e 2024, quase igual. O mercado analisa que a questão dos preços vai se interromper, e esta diferença que está ocorrendo, de preços mais baixos por conta de falta de mercado, se encerra em 2022.

Mercado digo aqui geradores, comercializadoras e afins. Quem oferta energia o faz em um mercado que não tem muita diferença de preços em 2022. São preços convidativos, muito bons, já que há uma redução de preços lá na frente. O mercado não está enxergando, além de 2022, uma diferença de preços muito grande.

Há como prever quanto tempo o consumo leva para retomar seu nível, após uma reabertura gradual?
Indo por um cenário moderado, a nossa perspectiva é que a partir de agosto aconteça uma recuperação, e que se chegue no final do ano a uma carga que seja igual a 2019. As indústrias estão basicamente paradas por não poderem trabalhar – então, quando elas voltarem, é só apertar um botão. E aquelas que trabalham com exportação, ou que já tem um grande volume contratado e comprado, tem uma retomada mais rapidamente. E também o agronegócio, que não para.

Temos uma visão de um segundo semestre de retomada, mas evidentemente eu não sou especialista em saúde, e estou considerando, neste cenário moderado, que este lockdown dure até o final de junho.

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