PLD atinge teto e analistas alertam para risco de insolvência no mercado livre


Nestor Rabello e Leila Coimbra, da Agência iNFRA

A disparada do PLD (Preço de Liquidação das Diferenças) colocou analistas do setor elétrico em alerta para os riscos de insolvência no mercado livre, sobretudo em relação a eventuais comercializadoras que podem ter ampliado sua exposição à variação de preços desde o início do ano.

De uma previsão inicial para o ano de um PLD de cerca de R$ 100,00 o MWh (megawatt-hora) com a pandemia de Covid-19, os agentes observaram o preço subir ao teto regulatório de R$ 559,75 o MWh nas regiões Sudeste/Centro-Oeste, Sul e Norte nesta semana. No Nordeste, a alta foi de 31%, para 196,76 o MWh. 

Na avaliação do analista da Tendências Consultoria Walter de Vitto, são as comercializadoras que devem sofrer mais com a frustração de cenário e também ficarem mais atentas aos riscos no mercado livre. Segundo ele, o aumento de preços amplia o risco para esses operadores.

“Não conheço a posição das comercializadoras ou se há alguém operando num nível de risco, mas é óbvio que todos os solavancos [no preço] potencializam esse risco. Pode trazer a tona esse descuido ou estratégia dessas empresas”, disse ele.

Ainda que o nível de exposição das empresas seja incerto, De Vitto aponta que empresas desse segmento costumam operar tomando um risco maior nas negociações. “É um mal do setor na área de comercialização que alguns agentes tentem operar a descoberto […]. Operar sem lastro, que é isso que algumas fazem, é um risco enorme e sistêmico.”

Cenário similar ao de 2019
Em fevereiro de 2019, quando houve frustração similar em relação ao PLD, comercializadoras chegaram a ficar insolventes na CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica) devido à mudança de preços de uma hora para outra.

Naquela ocasião, de janeiro para fevereiro, o PLD nas regiões Sudeste/Centro-Oeste e Sul saltou de R$ 192,10 para R$ 443,66 o MWh.

Para o diretor-executivo da Neal e ex-diretor da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), Edvaldo Santana, o episódio do ano passado pode ter deixado as empresas mais cautelosas, mas o cenário demanda atenção. 

“A empresa que foi surpreendida com este preço [do teto] e ficou descontratada pode sofrer. Mas acredito que depois de algumas empresas terem quebrado naquele ano, todos ficaram mais precavidos”, disse. “Mas há sempre o risco. Qualquer PLD acima de R$ 350,00, R$ 400,00 MWh é arriscado”, completa.

Já o sócio-diretor da Mercurio Comercializadora, Eduardo Faria, reforça que o atual momento enseja atenção, especialmente às empresas do segmento que assumiram um risco maior no mercado de curto prazo. “É um cenário desafiador para as comercializadoras que não possuem uma política de risco adequada”, disse.

“É comum que comercializadoras adotem posições vendidas aguardando as chuvas e as quedas de preço do período úmido. Quando isso não ocorre, o comportamento dos preços pode frustrar as expectativas, gerando riscos”, aponta.

Segurança mais evoluída
Para o presidente da Abraceel (Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia Elétrica), Reginaldo Medeiros, hoje a segurança de mercado está bem mais evoluída do que no início do ano passado, quando houve o problema de insolvência. 

“É outro mercado, muito mais seletivo e avesso à risco. As empresas evoluíram nas políticas de seleção dos parceiros comerciais. Acho muito difícil acontecer novamente. Lembro que quem selecionou mal a contraparte em 2019 arcou com o prejuízo. Nada foi repassado ao consumidor.”

Segundo Medeiros, essa discussão sobre segurança vem sendo feita com os órgãos do setor. “Temos discutido muito com a CCEE e a ANEEL a política de segurança de mercado, e evoluído bastante.  A própria Abraceel evoluiu muito com a nova política de ingresso de sócios”, disse.

Situação prolongada
Na avaliação dos especialistas, a tendência é que os preços continuem elevados e que o clima continue adverso nos próximos meses.

“O PLD fica muito sensível à quantidade de chuva prevista para a semana seguinte. Então, é provável que caia a R$ 300,00 MWh ou abaixo disso. Depende da primeira semana de dezembro. Em novembro não tem mais jeito, continuará um mês complicado”, aponta Edvaldo Santana.

Já na avaliação do sócio da Mercurio, a previsão no longo prazo é ainda de cenário adverso para as chuvas. “O fenômeno La Niña permanece e os modelos climáticos internacionais sugerem que continue até fevereiro de 2021, o que indica período com chuvas abaixo da média no Sul e Sudeste”, aponta Faria. 

Ao longo deste ano, o período úmido tem registrado recordes de escassez no país, sobretudo no Sudeste e no Sul. A expectativa do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) para este mês é que as afluências atinjam 56% da média histórica no sistema, ante previsão anterior de 67%. 

“Não é só o nível de chuva, mas se ela está acima ou abaixo da média histórica. A afluência tem sido baixa, inclusive no período seco inteiro. Outubro deveria ter ocorrido uma virada e agora chegou naquele momento crítico. O PLD está mostrando isso”, aponta De Vitto.

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