Piora nos reservatórios e lentidão nas iniciativas de gestão da demanda preocupam executivos

Roberto Rockmann*

Com mais da metade do mês de agosto já transcorrido, o nível de tensão no setor elétrico elevou-se diante de preocupação com a piora de reservatórios no Sul e Sudeste e lentidão em iniciativas de gestão da demanda.

Três dados despertaram um sinal amarelo entre os especialistas: 1) os reservatórios do Sudeste registraram pequeno recuo nos últimos dois fins de semana; 2) as represas da região Sul, que em junho estavam em 60% de capacidade de armazenamento, estão em franca queda e atingiram 37% no início da semana, reduzindo a transferência para o Sudeste; 3) a indisponibilidade de 4 GW (gigawatts) de usinas térmicas a gás natural aliada à parada programa da Petrobras, que foi postergada em 15 dias e se iniciará agora em 29 de agosto.

Com o período seco no início e previsão de poucas chuvas até outubro, o governo busca gerenciar a demanda em duas frentes: o programa de redução voluntária da indústria, que deve se iniciar em setembro, em vez da previsão inicial de julho; e uma ideia de conceder bônus a consumidores residenciais que economizarem.

Essa última iniciativa, consta da ata do CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico) de 5 de maio, quando se requisitou um estudo sobre a iniciativa. Passados dois meses, ainda não há detalhes do governo federal sobre a ainda ideia. Analistas apontam que ela poderia ser custeada pelo Tesouro e poderia virar uma nova Conta-Covid cobrada dos consumidores.

O atraso é visto com preocupação porque em outubro e novembro, auge do período seco, os reservatórios tendem a estar mais vazios. O risco de blecautes se torna ainda maior. O governo não quer ouvir a palavra racionamento. Vai agir para driblar os riscos, uma situação não muito diferente da vista em 2014, quando a então presidente Dilma Rousseff, à beira da reeleição, operou com reservatórios no limite à espera de São Pedro.

As chuvas vieram, a ameaça de racionamento foi afastada, mas a conta foi alta: o ministro da Fazenda à época, Joaquim Levy, autorizou um aumento superior a 30% das tarifas em 2015. Foi ali que o mercado livre começou a decolar, sob o cenário da Lei 12.783, fruto da MP 579.

Hoje, com um CMO (Custo Marginal de Operação) superior a R$ 3 mil o MWh, a operação do sistema vai ficar cada vez mais cara à medida que os reservatórios se esvaziarem. A liquidez será escassa. Exposição no curto prazo terá impacto pesado. O custo da operação dependerá de São Pedro.

A ajuda virá dos céus, mas a conta vai pesar muito no bolso dos brasileiros e poderá aumentar uma série de disfuncionalidades já existentes e ter impacto sobre a inflação por longos anos, em um cenário de desemprego recorde e eleição em 2022.

*Roberto Rockmann é escritor e jornalista. Coautor do livro “Curto-Circuito, quando o Brasil quase ficou às escuras” e produtor do podcast quinzenal “Giro Energia” sobre o setor elétrico. Organizou em 2018 o livro de 20 anos do mercado livre de energia elétrica, editado pela CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), além de vários outros livros e trabalhos premiados.
As opiniões dos autores não refletem necessariamente o pensamento da Agência iNFRA, sendo de total responsabilidade do autor as informações, juízos de valor e conceitos descritos no texto.

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