Petrobras e problema ambiental no rio Paraná são entraves ao abastecimento de energia


 Leila Coimbra, da Agência iNFRA

Para garantir o suprimento de energia a partir de agosto, o governo negocia duas medidas essenciais. A primeira é reduzir a vazão das hidrelétricas de Jupiá e Porto Primavera para mínimas históricas. Mas isso poderia provocar impactos ambientais no Rio Paraná, dentre os quais a morte de peixes ou o “aprisionamento” destes em lagoas, além do comprometimento da qualidade da água.
 
As informações constam em relatórios feitos ao Ibama pelas empresas donas das hidrelétricas: a chinesa CTG, que opera Jupiá; e a Cesp, controlada pela Votorantim, que é dona de Porto Primavera.
 
Gás da Petrobras
O segundo desafio é fazer com que a Petrobras adie da segunda quinzena de agosto para janeiro de 2022 a manutenção plataforma de Mexilhão, e da Rota 1, rede de gasodutos que leva o gás do pré-sal até o litoral. O abastecimento de gás para o acionamento de todo o parque termelétrico é essencial, mas a estatal está relutante em mudar o cronograma.
 
Questionado sobre a negociação com a Petrobras, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, disse à Agência iNFRA apenas que a equipe da pasta “vem trabalhando desde o ano passado para manter todo suprimento necessário à operação do sistema”.
 
Vazões
Em relação às vazões das hidrelétricas, um assunto mais técnico, a Cesp e a CTG vêm realizando – sob comando do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) e com autorização do Ibama –, desde a primeira quinzena de maio, testes de redução das defluências das suas usinas.
 
Nos testes, reduziu-se a vazão de Jupiá de 3.700 m3/s (metros cúbicos por segundo) para 3.200 m3/s e, em Porto Primavera, de 4.300 m3/s para 3.800 m3/s, com diminuições de 100 m3/s por dia.
 
A redução da vazão nestas duas usinas permite armazenar água nas hidrelétricas Três Irmãos e Ilha Solteira, que estão acima na cascata do Rio Paraná e possuem reservatórios maiores.
 
Mas, segundo cálculos do governo, seria preciso que as defluências mínimas caíssem para 2.700 m3/s em Porto Primavera e 2.300 m3/s em Jupiá. As vazões mínimas vigentes autorizadas pelo Ibama são de 3.900 m3/s e 3.300 m3/s, respectivamente.
 
“Processo complexo”
A flexibilização do uso da água é um processo complexo, como aponta a PSR no seu mais recente relatório ‘Energy Report’, restrito aos assinantes. A consultoria comparou a situação atual com a seca de 2014 na usina de Jupiá
 
O texto explica que, na ocasião, houve uma redução da vazão mínima da usina para 2.500 m3/s, e isso foi um “processo complexo”. O texto disse que existe uma restrição de “rampa” de 500 m3/s por hora para a redução das vazões a jusante de Jupiá, “com o objetivo para evitar mortandade dos peixes, que podem ficar aprisionados em pontos da calha do rio”.
 
A PSR também cita um apagão que desligou a usina por algumas horas em 2009, que teve forte impacto sobre as vazões a jusante e provocou a mortandade de peixes.
 
Furnas
O processo de flexibilização inclui a usina de Furnas. Neste caso, é preciso o inverso: que a hidrelétrica aumente a sua vazão. Como a barragem de Furnas é de cabeceira, precisa liberar a água para toda a cascata do Rio Paraná e esvaziar o seu lago. Hoje a defluência em Furnas é de 500 m3/s e o objetivo é passar para 800 m3/s.

Esse processo de esvaziamento compromete o turismo na região que abrange 34 municípios mineiros, além de irrigação e piscicultura, o que já causa impactos políticos.
 
7,5% de armazenamento
O governo estima que, sem as medidas de flexibilização hídrica, é possível que o armazenamento das usinas das regiões Centro-Oeste/Sudeste chegue a 7,5% em novembro, o menor nível já registrado na história e extremamente crítico.
 
Contexto
A bacia do Rio Paraná responde por cerca de 76% da capacidade máxima de armazenamento do subsistema Sudeste/Centro-Oeste e por pouco mais da metade (53%) da capacidade de armazenamento de todo o SIN (Sistema Interligado Nacional).
 
Termelétricas
Já a questão da Petrobras também é primordial, especialmente se for executado o cenário de redução das vazões ao nível recorde. Isso porque, ao se poupar água para preservar os reservatórios – que não cheguem aos temíveis 7,5% de armazenamento em novembro – as hidrelétricas também produzirão menos de energia.
 
Neste cenário, é preciso que usinas térmicas estejam gerando 17,5 mil MW (megawatts em agosto); e 20 mil MW em outubro.
 
O relatório da PSR calcula que, em três meses de diferença de vazão em Jupiá de 4.000 para 2.500 m3/s, significa que todas as usinas do Rio Paraná deixariam de produzir, em conjunto, 1,75 MW para cada m3/s, o que daria um total de 2,6 mil MW.
 
Com a parada de Mexilhão e Rota 1, a estimativa é que 3.500 MW em usinas termelétricas não poderão gerar pelo fato de não ter gás natural disponível.
 
Petrobras
Na última sexta-feira (4), a Petrobras comunicou oficialmente a parada programada da plataforma e da rede de gasodutos. Disse que a manutenção já estava informada à ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) desde outubro de 2020 e que não será possível adiar por visar à segurança operacional e ao cumprimento de prazos normativos.
 
“A parada possibilitará a manutenção preventiva e a realização de melhorias nas instalações, garantindo a continuidade e a segurança nas operações de escoamento e fornecimento de gás natural”, afirmou a petroleira.

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