PAULO LOPES,
Diretor-presidente da MGO Rodovias

“FAZER O CERTO É SEMPRE MAIS BARATO”

O economista Paulo Lopes trabalha com concessões rodoviárias praticamente desde que começaram a ser implementadas no país, em 1995, e aceitou um desafio inusitado há três anos: criar do zero uma companhia de concessões com nove sócios. Vista como uma espécie de patinho feio das concessões de rodovias em 2013, quando ganhou o primeiro leilão de um lote rodovias privatizadas no governo da ex-presidente Dilma Rousseff, a MGO Rodovias tornou-se um caso de sucesso.
Num mercado dominado por gigantes, a concessionária da BR-050/MG-GO é a única das seis rodovias privatizadas a cumprir o contrato rigorosamente e já estuda entrar em novas concorrências.
Lopes atribui o sucesso do empreendimento a um lema da empresa: “Fazer o certo é sempre mais barato”. Mas, mesmo com o cumprimento dos cronogramas, o diretor olha com preocupação para o cenário: “Estamos no limite”, afirma o baiano de 52 anos em sua entrevista à Agência iNFRA.

AGÊNCIA iNFRA – No início do processo, quando a MGO ganhou a concessão, havia sempre muita desconfiança em relação ao grupo. O que essa desconfiança trouxe de consequências negativas no começo?
PAULO LOPES – No mercado havia uma desconfiança de todos os credores porque nossos acionistas sempre foram prestadores de serviços para concessionárias ou fornecedores. Eram nove empresas inexperientes em gestão de concessionária. Isso criou uma certa dificuldade, principalmente na hora da colocação do financiamento de longo prazo. Como eles não tinham característica de tomadores, principalmente de projetos dessa monta, perante o BNDES, Caixa, demorou um pouco a parte de avaliação de risco, garantias. Sofremos um pouquinho, mas superamos. Só duas conseguiram o volume e as condições da carta de proposta da concessão, nós e a CCR.

O que foi essencial para vencer a desconfiança?
É uma gestão completamente profissionalizada, com governança corporativa muito forte. Isso é um mérito. São nove empresas. Se cada uma quisesse colocar seu representante, ou gerir a empresa, daria com certeza um choque de interesses. Para evitar isso, eles acertadamente foram ao mercado contratar pessoas com experiência.

O senhor acha que é um dos motivos para a MGO estar dando certo?
Sim, além da coesão deles. Eles estão em bloco, participando com 11,1% cada. A coerência e a coesão deles é grande. Internamente, nunca nada foi votado. As decisões são sempre unânimes. Eles são unidos e esse é o principal fator de ter dado certo. Você pode montar um grupo homogêneo, mas que desande logo no começo. E o outro fator é a gestão profissionalizada. Nosso lema aqui é: fazer o certo é sempre o mais barato. E estamos comprovando isso. Estamos passando por dificuldade também por causa da crise e havia desconfiança se o acionista colocaria o dinheiro dele.

Por que era uma desconfiança?
O mercado não conhecia os nomes. Mas a turma já colocou R$ 170 milhões no projeto. Coloca mais R$ 40 milhões esse ano. Está firme para isso, a partir do mês de junho já começa. Vamos também lançar R$ 75 milhões em debêntures incentivas. E agora estamos na expectativa da reação da economia para melhorar o projeto. Sofremos bastante. As projeções eram três a quatro por cento de crescimento, e o país regrediu três a quatro por cento ao ano.

Isso gerou problemas para o financiamento?
O BNDES criou uma regra de contingenciamento pela desconfiança que o banco já tinha do mercado em 2014. Eles diziam que estávamos apresentando uma evolução do tráfego que ele não estava de acordo. Como não estavam de acordo, disseram que deixariam um limite de crédito nas condições pactuadas, mas a empresa só acessaria quando comprovasse que teria a geração de caixa futura prevista. Acreditamos que começamos a descontingenciar esses créditos ao final desse ano, quando teremos a geração de caixa maior por conta de redução de custo que fizemos ano passado.

E o tráfego?
Tivemos uma surpresa boa com aumento de 1,3% em maio em relação a 2016. Nos quatro primeiros meses, fomos menores. Se tudo der certo, tomara que continue assim, podemos recuperar a frustração que tivemos nesses três primeiros anos.

Quais as lições que os senhores aprenderam para lidar com a burocracia estatal dentro das concessões?
Trabalhar com a ANTT é bom. A regularidade da ANTT nos faz mais organizados. Em três anos, não tomamos uma multa por causa daquela história de fazer sempre bem feito. Estamos trabalhando para continuar assim. É até normal ter multa porque os trechos são grandes e você tem dificuldade para executar tudo nos prazos. Mas estamos seguindo nosso plano de negócios. Temos dificuldades conjunturais, o que nos apertou muito. Essa medida provisória, se sair para tentar suprir a frustração da MP 752, permitiria à ANTT um alongamento das obras, para dar uma desconcentrada na necessidade de caixa dos primeiros anos. Isso nos ajudaria. Precisamos disso também para dar mais financiabilidade e fazer as obras de forma mais criteriosa, nos lugares que precisam ser feitos. A ANTT vai poder dizer onde as estradas vão ser duplicadas, sem mexer na essência do contrato.

Mesmo para a MGO, que é a única a conseguir cumprir, fazer dentro do cronograma previsto de cinco anos de duplicação é um desafio?
Sim. Até agora estamos sobrevivendo. Mas se a crise continuar e houver essa necessidade de duplicação até o fim do ano… Já duplicamos 90 quilômetros. Faltam 120 quilômetros em dois anos. É bem agressivo o negócio. Estamos prontos. Mas, se continuar num cenário de crise, nós vamos ter dificuldades, não tenha dúvida. Está todo mundo parado na terceira etapa. Só nós estamos fazendo obras. É um exemplo que deu certo, mas não suporta mais crise. Estamos no limite.

Qual a solução, então?
Se desafogar um pouco esse cronograma, a gente passa qualquer crise, sem mexer na essência do contrato. Se você alongar um cronograma, você tem que pagar um pênalti por isso. Esse pênalti vai da redução da tarifa ou do prazo de concessão ou um mix. O governo federal está empenhado para tentar encontrar uma solução, aprovando no Congresso essa medida provisória para a terceira fase. Temos cinco mil quilômetros de rodovias. Toda a soja do Centro-Oeste está aí dentro. E o BNDES tem R$ 4 bilhões nesse negócio. Todos estão interessados em resolver, dar mais financiabilidade, mais credibilidade, para que não vire uma briga judicial.

E se virar?
Você vai ter cinco mil quilômetros sem investimento, vai piorar e vai ficar a briga para saber como indeniza, como paga, como paga o BNDES. A melhor forma é buscar soluções para que todas voltem a ter financiabilidade, que possam pagar as dívidas e seguir em frente para fazer os investimentos necessários para o país, não na velocidade do governo Dilma, mas que seja de forma mais adequada à realidade da demanda de tráfego.

Olhando para trás, com todos os problemas que tiveram, a MGO daria o lance de novo no leilão?
Nessa modalidade agressiva de investimentos, não. Aquilo foi uma junção de várias coisas. Demos porque tinha financiabilidade e expectativa de crescimento do país de uma forma linear. A crise veio na hora que assinamos o contrato e nos pegou de vez. Em janeiro de 2014, começou Lava-Jato, tudo… Os investimentos do país começaram a diminuir e o termômetro é a rodovia. Se o país tivesse naquele ritmo de crescimento, brindaríamos de novo. Tanto é que estamos firme. Vamos entrar na BR-364/365, na BR-135, do governo de Minas, que foi lançada. Nosso grupo está empenhado em novos negócios, acreditando que o país vai melhorar. Temos que sair dessa.

O pessoal da terceira etapa reclama que os financiamentos não foram como o combinado. A empresa tem algum pedido de reequilíbrio?
Em relação a financiamento?

E também outros, como ambiental.
Nós já temos a licença para duplicação. Só um pedaço pequeno que o Ibama está olhando, mas vai sair, está dentro da programação. Tivemos um problema com um trecho do Dnit que está se resolvendo também.

Ele tinha que cuidar de uma parte?
Tinha que passar um trecho de forma nova e quando recebemos havia um monte de defeitos e irregularidades que tivemos que reequilibrar. Estamos na fase de regularizar para assumir esse trecho. Ele é alvo de decisão judicial em ação promovida pelo Ministério Público que pede que a gente assuma o trecho por conta de ser uma prioridade, de maior interesse público. Isso vai aumentar a tarifa em 10,9%. Vamos receber o investimento em 26 anos, que é o tempo da concessão. Já assumimos tudo e estamos fazendo mais R$ 200 milhões em investimentos.

Como estão vendo os estudos de concessões que estão sendo colocados? Há defeitos que ainda podem ser modificados para que não ocorram problemas na frente?
Crédito. Hoje o problema maior é não ter disponibilidade de crédito no mercado. Por quê? A desconfiança do mercado é grande. A política do BNDES é financiar só 50% e aumentou o índice de cobertura da dívida, o que limita ainda mais. Quando você vai para o mercado normal, isso encarece demais o programa. Com isso, você afugenta grupos como o nosso. Você vai tirando a capacidade de financiamento do projeto e o acionista tem que colocar mais dinheiro, dá uma exposição maior ao acionista e você tem que arranjar grupos mais fortes para poder ter recursos. Você começa a limitar a quantidade de licitantes.

Mas isso é o contrário do que o governo diz que quer fazer?
Mas não consegue. É muito bom ter a MGO. Mas, no momento atual, é difícil você juntar nove empresas de médio porte que tenham essa capacidade de recursos para bancar o início de concessão que é muito violento. Com a restrição de garantia e o mercado olhando ruim para tudo que bota na frente dele de empreiteira, custo de garantia alto, custo do dinheiro alto, isso vai se refletindo no valor da tarifa. No final da história, quem paga tarifa alta é o usuário.

Por quê?
Isso restringe a quantidade de licitantes. Vai entrar quem tem muito dinheiro ou estrangeiro. Você começa a desincentivar o brasileiro a entrar no negócio.

Iniciativas como a da MGO, consideradas uma abertura, não vingariam?
Como você vai colocar trezentos, quatrocentos milhões de capital? Tira pela de São Paulo, veja como ficou? Foi coisa de bilhão. Não tem empresa para botar bilhão no negócio, com um regulatório fragilizado com o que aconteceu na terceira fase. Mas estamos confiantes. Estamos estudando e vamos apostar porque o grupo é coeso e tem já experiência. Mas se não tiver dinheiro para fazer o negócio, fica difícil.

A crise política está afetando os investimentos da empresa e as análises futuras de investimento?
O governo federal está muito empenhado em resolver a terceira fase. Sinto boa vontade do governo em resolver, empenho. Agora, a mudança política, se tiver, tem impacto em tudo. Aí é nova briga, nova paradeira, que reflete até no fluxo de veículos, nos investimentos. É bem ruim. Um agravamento de crise sempre traz reflexo nas rodovias.

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