Participação do gás no Plano Nacional de Energia é tímida, dizem especialistas


Nestor Rabello, da Agência iNFRA

Com participação mais expressiva de fontes renováveis na matriz energética no âmbito do PNE (Planejamento Nacional de Energia) 2050, a participação do gás natural está subdimensionada no plano estratégico para os próximos 30 anos, segundo especialistas da área consultados pela Agência iNFRA.

Os analistas apontam que, apesar de as termelétricas a gás ganharem mais destaque na estratégia do plano em garantir a segurança do sistema elétrico, as previsões do governo para o aproveitamento do insumo ainda estão tímidas.

Na avaliação do diretor da CBIE Advisory, Bruno Pascon, as considerações feitas no documento a respeito da participação do gás natural aproveitam pouco a projeção de aumento da oferta da matéria-prima no cenário de abertura do mercado.
 
“A questão é que o farol [do PNE] está na direção correta. Mas no meio do caminho você tem, pela primeira vez na história, uma projeção da oferta de gás natural dobrar, e o melhor mercado para utilizar isso é o doméstico. O papel do gás está subdimensionado na matriz energética”, explicou o executivo.

Térmicas inflexíveis
Segundo ele, a adoção de termelétricas inflexíveis, que geram na base, seria necessária para melhor aproveitar o novo mercado do gás e ainda garantir a segurança energética do país em meio a um cenário com mais presença de fontes renováveis.
 
“A gente não está falando que tudo tem que ser inflexível. Eles [o governo] têm que ter na cabeça que o pré-sal só funciona com térmica inflexível porque o gás é associado. Além de trazer parte da expansão com essas térmicas, também se destrava o mercado secundário de gás, que é o de armazenamento”, afirma Pascon.
 
Visão similar tem o presidente da Abraget (Associação Brasileira de Geradoras Termelétricas), Xisto Vieira Filho, que também critica a menor previsão do nível de participação de geração termelétrica a gás.
 
“A intenção, tanto do PNE como de todos os países, é fazer uma transição para uma matriz energética mais verde, mas tem gente que acha que pode ter uma matriz puramente verde”, aponta o executivo.
 
No entanto, Xisto acredita que o governo poderá rever a representatividade do gás natural nos planos decenais, que trabalham com um horizonte de médio-prazo.
 
“Parte da transição será feita com a graduação da geração térmica a gás para manter os níveis de segurança e confiabilidade. Eu acho que isso que vai ser colocado nos planos decenais de uma forma bem mais detalhada”, diz. “O PNE 2050 é uma referência, uma questão de muito longo prazo”, completa.
 
Nesse contexto, Pascon acrescenta ainda que o uso do gás renovável como energia de transição se torna importante quando há maior protagonismo das fontes renováveis, como forma de equalizar a intermitência dessas geradoras.
 
“Para crescer a economia sem ter falta de suprimento você precisa de uma fonte que não seja intermitente, e a mais barata e limpa é a que vem do gás natural. Há uma oportunidade não só de dar mercado, mas de reduzir custos para a indústria, responsável por cerca de 50% da demanda de energia”, ressalta.
 
Mercado de gás
Atualmente, o projeto que institui a abertura do mercado de gás natural (PL 4.476/2020) está empacado no Senado, e um dos pontos sendo negociados com o governo para viabilizar a aprovação da medida é justamente a previsão das térmicas inflexíveis.
 
Favoráveis às térmicas que geram na base argumentam que elas representam um instrumento importante para gerar demanda e interiorizar o uso do gás natural, expandindo a infraestrutura no país.
 
No entanto, essa previsão não é consensual, e esse ponto, assim como outros – como a desverticalização da cadeia produtiva e a classificação de gasodutos de distribuição –, tem movimentado as negociações em torno do texto.

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