Para especialista, risco de blecautes aumenta a partir da segunda metade de setembro

Roberto Rockmann, colunista da Agência iNFRA*

Há um risco considerável de o país enfrentar blecautes a partir desta segunda metade de setembro até o fim de novembro, avalia Edvaldo Santana, ex-diretor da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) e ex-presidente da Abrace (Associação dos Grandes Consumidores Industriais de Energia).
 
Para que as turbinas gerem energia, elas precisarão de mais água, ou seja, o esvaziamento dos reservatórios das hidrelétricas se intensificará. O nível deles poderá estar abaixo de 20% no início de outubro e abaixo de 10% em novembro.

Para ele, o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) já deveria estar trabalhando em simulações para eventuais desligamentos voluntários e involuntários de carga.
 
“É como bombeiros que podem atuar em um resgate, eles têm de estar preparados”, destacou. Nas suas contas, a produtividade das usinas hidrelétricas está hoje em 65%. Santana, primeira voz pública a alertar, em maio, em um artigo de jornal, para a ameaça de um racionamento, tem várias preocupações.
 
Nesse momento, as eólicas geram bastante energia porque se vive a safra dos ventos. Em dezembro e janeiro, quando a força dos ventos cai, tende-se a perder 35% do fator de geração. “Há muitas eólicas entrando e houve duas novas linhas de transmissão que aumentaram o escoamento, mas há incerteza sobre quanto elas gerarão no fim do ano.”
 
Outro tema traz receio. A MP (medida provisória) que criou a CREG (Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidroenergética) perde a validade no fim do ano, se não for convertida em lei. A gestão múltipla dos recursos hídricos para o setor elétrico tem tido respaldo nela. A crise política atual poderá ter impacto sobre esse tema. O uso do lago de Furnas para a energia elétrica desperta a atenção de diversos prefeitos em Minas Gerais, enquanto a vazão dos reservatórios do rio São Francisco é tema delicado para governadores e prefeitos do Nordeste.
 
Operar no limite tem um custo, que se refletirá mais sobre pequenas indústrias, comércio e residências no mercado cativo e poderá ter uma parte empurrada para 2023, já que o próximo ano é eleitoral. Na visão do ex-diretor da ANEEL, que viveu o racionamento de 2001 na agência reguladora, o custo das bandeiras tarifárias está em cerca de R$ 9 bilhões mensais.
 
Provavelmente, em novembro ou dezembro, a bandeira de escassez hídrica, hoje em R$ 14,20 por kWh, terá de ser reajustada de novo. “E os reajustes de 2022 devem ser altos. Na crise de 2014, quando também se evitou o racionamento, a alta em 2015 passou de 25%.”
 
O alto custo das tarifas e a eventual queda do consumo poderão ter impacto sobre o elo arrecadador da cadeia: as distribuidoras. Resultado? “Não descarto a abertura de uma nova Conta-Covid”, diz Santana. Em 2008, o economista Nouriel Roubini se tornou famoso ao prever a crise financeira do subprime. Em maio de 2021, as primeiras previsões de Edvaldo Santana foram tachadas de muito pessimistas e descartadas. Hoje suas análises são lidas com muito mais atenção.

*Roberto Rockmann é escritor e jornalista. Coautor do livro “Curto-Circuito, quando o Brasil quase ficou às escuras” e produtor do podcast quinzenal “Giro Energia” sobre o setor elétrico. Organizou em 2018 o livro de 20 anos do mercado livre de energia elétrica, editado pela CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), além de vários outros livros e trabalhos premiados.
As opiniões dos autores não refletem necessariamente o pensamento da Agência iNFRA, sendo de total responsabilidade do autor as informações, juízos de valor e conceitos descritos no texto.

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