Ministro Vital do Rêgo vai relatar consulta do governo sobre desistência de relicitações

Ministro Vital do Rêgo vai relatar consulta do governo sobre desistência de relicitações

18 de maio de 2023

Dimmi Amora, da Agência iNFRA

O ministro do TCU (Tribunal de Contas da União) Vital do Rêgo vai relatar o processo sobre a consulta feita pelos ministérios de Portos e Aeroportos e dos Transportes referente à possibilidade de que o governo possa não dar continuidade aos processos de devolução amigável com pedidos de relicitação feitos por concessionárias dos setores de transportes.

O pedido atende a uma indicação do governo feita na própria consulta formulada na semana passada, indicando que Vital já relatava um processo sobre o tema, que é o 009.470/2020-4, que trata da relicitação do Aeroporto de Viracopos (SP). Esse processo chegou a ser pautado pelo ministro recentemente para decisão, o que indica que uma solução para os outros oito processos de relicitação listados pode vir rapidamente. 

De acordo com o texto original obtido pela Agência iNFRA, a consulta quer que o órgão de controle se pronuncie sobre dois temas relativos ao texto da Lei 13.478/2017: 

“a) Se há alguma objeção deste Tribunal de Contas da União ao entendimento de que o caráter irrevogável e irretratável da relicitação se restringe à iniciativa do concessionário?; b) Quais as balizas técnicas que o gestor deve apontar na sua motivação para o encerramento do processo de relicitação, por iniciativa do Poder Concedente?”

O entendimento do governo é que a lei aprovada em 2017 indicava o caráter “irrevogável e irretratável” para o pedido de devolução amigável como forma de os concessionários não usarem o instrumento para se livrar de punições momentaneamente.

A tendência atual é entender que, quando se demonstra, após os cálculos, que a devolução é um caminho pior para o interesse público do que a continuidade do contrato, o governo teria o direito de revogar os atos que levam ao processo de relicitação do ativo.

“Nos resta claro que não há vedação legal que impeça a Administração Pública de rever a gestão do ativo concedido, mediante a celebração de um novo acordo, ante a solução dos aspectos operacionais e econômico-financeiros do contrato de parceria, possibilitando a prestação adequada do serviço público, atendendo, assim, ao interesse público”, informa o texto da consulta.

Paralisia de investimentos
O governo vem deixando cada vez mais claro que não pretende seguir com a maioria dos processos de relicitação, entendendo que eles levam à paralisia dos investimentos, e tenta uma solução que passe por uma reestruturação ampla dos contratos de forma consensual, em mediação com o próprio TCU. 

Esse projeto segue o exemplo de sucesso ocorrido na reestruturação da concessão da rodovia BR-163/MT, no ano passado, quando o governo do Mato Grosso usou uma estatal do estado para assumir o contrato que era de responsabilidade de um companhia privada, após a sua reestruturação.

Num evento sobre o setor portuário realizado em Santos nesta segunda-feira (15), o ministro da corte Benjamin Zymler disse durante sua conferência que em algumas situações da infraestrutura “nenhum gênio jurídico” vai resolver sozinho.

“[Nesses casos] nenhuma solução é possível sem negociação, diálogo, mediação e conciliação, feitas com o poder concedente, a agência e as empresas. A diferença é que o TCU senta à mesa para abonar ou não essa negociação. O TCU se antecipa”, explicou o ministro sobre o mecanismo de solução consensual iniciado com a experiência da BR-163/MT, relatada então pelo atual presidente do órgão, ministro Bruno Dantas.

Ele afirmou que essa solução pode dar segurança aos gestores para tomar decisões para a conciliação e lembrou que relata um dos primeiros projetos aceitos, o de conciliação sobre a contratação de térmicas emergenciais, indicando que será necessário para a solução “um grande encontro de contas”.

“Desatar nós”
No mesmo evento, o ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França, disse, sem ser específico sobre esse caso das relicitações, que o presidente da República, Lula, pediu que os ministros agissem mais depressa para “desatar os nós”. 

Segundo ele, mesmo em alguns casos com boa vontade de todos os lados, o que inclui governo, empresa e órgãos de controle, há um “emaranhado de regras” do qual não se sabe como sair. Para França, é necessário ouvir a todos nesses momentos, mas, acima de tudo, o gestor “tem que decidir”.

Reestruturação em todas
Entre agentes públicos que lidam com essas concessões que deixaram de cumprir suas obrigações e pediram para devolver, a impressão é que o governo vai tentar que todas passem por uma reestruturação que permita a retomada de investimentos o mais rapidamente possível.

Isso, contudo, vai depender de quanto as agências e o órgão de controle vão estar dispostos a flexibilizar os contratos para permitir esse reequilíbrio. Em algumas situações, os técnicos e o próprio governo indicam que os desequilíbrios são profundos e nem uma reestruturação seria capaz de manter o atual contrato, ainda que com um novo operador privado, por exemplo.

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