Mesmo com custo de US$ 2,4 trilhões, carbono zero em 2050 será realidade na navegação

Dimmi Amora, da Agência iNFRA

A indústria de navegação vai precisar se preparar para uma mudança mais profunda que a prevista atualmente sobre emissões de carbono, que a leve a cortar além dos 50% em 2050, meta que atualmente está estabelecida pela IMO (Internacional Maritime Organization).

É o que apontam Arthur Ramos, senior advisor em Clima e Energia, e Eduard Pujol, líder em infraestrutura, transporte & logística do BCG (Boston Consulting Group), que participaram de um estudo sobre o tema feito pela consultoria, apontando os valores e custos necessários para que a meta chegue a zero emissões até 2050, algo que já foi anunciado por alguns grandes players do setor, mesmo em discordância com a da organização.

No meio das discussões da COP26, em Glasgow, Escócia, onde a pressão por metas mais ousadas de redução de emissões em todos os setores ficou evidente, Pujol não tem dúvida de que será preciso rever a previsão do setor marítimo.

“A descarbonização é um imperativo. A pressão [por metas mais ousadas] virá de vários setores, clientes, investidores, reguladores, e vai fazer essas metas se acelerarem”, afirmou Pujol.

O trabalho do BCG estima que a indústria naval e seus parceiros precisam investir US$ 2,4 trilhões para zerar suas emissões até 2050 e alcançar a principal meta do Acordo de Paris. O trabalho, em inglês, está disponível neste link.

No estudo, são estimados os investimentos necessários por área. Mais da metade do montante (cerca de US$ 1,5 trilhão) seria destinado aos setores de energia e químico para desenvolver combustíveis alternativos à base de hidrogênio e para construir ou aprimorar instalações de refinamento, armazenamento e distribuição de combustível. 

Coordenação
Ramos diz que será inevitável que haja uma coordenação entre diferentes indústrias para se chegar a uma produção de combustível menos poluente. Para ele, os caminhos da indústria marítima e de energia vão ter que ser trilhados em paralelo para se chegar mais rapidamente às soluções, especialmente as baseadas em hidrogênio verde.

No entanto, ele observa que há soluções de curto prazo que podem ser implementadas sem a necessidade de grandes desenvolvimentos, como melhorias em rotas e eletrificação das embarcações, por exemplo.

Pujol lembra que os ganhos de eficiência operacional têm significativa importância na redução das emissões, sem depender de novos desenvolvimentos na área de combustíveis, por exemplo. Ambos acreditam que as empresas que forem proativas nessa transição vão ter vantagens competitivas no futuro.

Gap
Há no entanto um gap entre os valores que o trabalho apontou que os clientes estão dispostos a pagar a mais para um transporte sem emissões de carbono e o custo médio estimado a mais do transporte para bancar um transporte limpo.

De acordo com o trabalho, considerando uma média de custos de frete dos últimos anos, o valor a mais para a transição ficaria numa faixa entre 10% e 15% dos custos com o transporte. Os clientes se mostram dispostos a pagar um frete até 2% maior.

Recentemente, houve um forte movimento de clientes, especialmente ligados ao agronegócio, contra uma mudança determinada pela IMO no nível de enxofre do combustível de navegação, o bunker, para torná-lo menos poluente.

A mudança tornou o bunker mais caro, especialmente para viagens de longa distância, o que encarece o custo do transporte das commodities brasileiras. Entidades brasileiras tentaram, sem sucesso, mudar a regra para evitar que o custo recaísse sobre o frete, alegando inclusive que as emissões do setor de transporte eram pouco significativas. Reportagem sobre o tema está neste link.

Pressão por zero emissões
Arthur Ramos acredita que esse tipo de pressão contrária vai ser cada vez menor no futuro, com exigência maior para que o transporte seja limpo, como forma de as empresas alcançarem mais facilmente suas metas de zerar a emissão, observando uma cultura do cliente final, que não estará disposto a consumir de quem emite carbono.

Pujol lembra ainda que, além de se preparar para a mudança inevitável de atingir o carbono zero em 2050, as empresas deverão começar a trabalhar nessas metas imediatamente, visto que elas só podem ser alcançadas com investimentos desde já. 

“Um navio tem vida útil de 20 anos. Se você vai ser zero carbono em 2050, o equipamento que você vai comprar em 2030 já tem que pensar nisso”, lembrou o consultor, indicando que as metas devem ser comunicadas de forma clara ao longo do tempo porque haverá a cobrança por parte dos clientes sobre os resultados alcançados ano a ano.

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