Mensagem apócrifa convocando paralisação em massa na geração solar traz preocupação ao setor

Roberto Rockmann*

Uma mensagem de convocação para um “Eclipse Day” no dia 7 de março, solicitando que todos os geradores de painéis fotovoltaicos desliguem suas usinas solares por quatro horas, das 11h30 às 15h30, tem causado inquietação e interrogações no setor elétrico. 

O texto começou a circular pelas redes sociais na noite de segunda-feira (27). Sem autoria conhecida, a mensagem fez autoridades do setor elétrico, como o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), buscarem mais informações com a indústria solar. 

Ao tomar conhecimento do movimento, a Absolar (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica) divulgou uma carta na qual nega participação na ação, que classifica como de baixa relevância para contribuir para o desenvolvimento sustentável e a boa governança do setor elétrico brasileiro.

A associação recomendou que os geradores “não adiram a ação e mantenham seus sistemas de geração em funcionamento”. De acordo com a Absolar, o desligamento em massa de qualquer potência relevante pode trazer inúmeros prejuízos à operação do sistema elétrico, aos consumidores e às instituições.

Punição
Para o ex-diretor-geral da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) e ex-diretor-presidente da ANA (Agência Nacional de Águas), Jerson Kelman, as usinas solares que desligarem no horário proposto na convocação deveriam ser punidas pela ANEEL e ser desconectadas do grid pelo ONS sempre que houvesse vertimento turbinável das hidrelétricas. 

Para outro especialista, o episódio cria várias interrogações. “Essa pulverização da GD [geração distribuída] solar pode deixar a segurança do sistema vulnerável a pessoas que usam fake news como argumento. E agora?”, questiona-se. 

Mudanças na operação do sistema
A convocação, falsa ou não, também enseja reflexões sobre a complexidade crescente da operação do sistema e da urgência de aperfeiçoamentos regulatórios, evidenciada por exemplo pela crise hídrica de 2021. O avanço de fontes variáveis e descentralizadas coincide com os efeitos cada vez mais intensos das mudanças climáticas, ora com estiagens severas, ora com chuvas abundantes. 

A necessidade de um mercado de flexibilidade, de atendimento de ponta, assim como a valoração de atributos das fontes, como as hidrelétricas, que servem também como baterias de armazenamento, tornam-se ainda mais urgentes. 

Em artigo nesta semana, o ex-diretor da ANEEL Edvaldo Santana aponta que, em 2030, ou antes, “a descentralização da oferta por meio da GD terá alguns efeitos indesejáveis, mas esperados. A coordenação central do sistema, hoje exercida pelo Operador Nacional do Sistema, será responsável por não mais que 20% da oferta total”. 

Santana destaca que essa mudança de paradigma exigirá um novo olhar além da operação. “É uma modificação importante de rotina, em especial na atual sistemática de operação do sistema e de formação de preços e tarifas, que exigirá uma saída para os bilionários custos afundados de ativos que podem não ter mais uso econômico.”

*Roberto Rockmann é escritor e jornalista. Coautor do livro “Curto-Circuito, quando o Brasil quase ficou às escuras” e produtor do podcast quinzenal “Giro Energia” sobre o setor elétrico. Organizou em 2018 o livro de 20 anos do mercado livre de energia elétrica, editado pela CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), além de vários outros livros e trabalhos premiados.

As opiniões dos autores não refletem necessariamente o pensamento da Agência iNFRA, sendo de total responsabilidade do autor as informações, juízos de valor e conceitos descritos no texto.

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