iNFRADebate: O etanol na transição energética para o hidrogênio verde

Renato Cunha*

O hidrogênio verde é mundialmente classificado como o futuro das energias renováveis. Conhecido como H2V, apresenta vantagens ambientais incomparáveis por emitir zero em gás carbônico ao ser produzido e consumido. O diferencial está no fato de que o processo utilizado para a obtenção da hidrólise pode ser de base renovável e ofertada por usinas hidroelétricas, solares e eólicas, o que faz toda a diferença em processos de produção limpo e sustentável.

Aproveitar as potencialidades do etanol de cana-de-açúcar nesta transição energética em pleno curso constitui uma das estratégias mais eficazes para o Brasil alcançar o protagonismo no mercado de H2V. Nesse sentido, em fevereiro deste ano, o CNPE (Conselho Nacional de Política Energética) divulgou relevante documento, destacando o hidrogênio verde como um dos temas prioritários para o nosso desenvolvimento sustentável.

Na primeira quinzena de junho, o Nordeste brasileiro, abundante em sol, ventos e cana-de-açúcar, entendeu o recado e deu importante passo rumo à era do baixo carbono com o H2V. Em iniciativa inédita, o Governo do Estado de Pernambuco, por meio do Complexo Industrial Portuário de Suape, e a empresa Neoenergia firmaram Memorando de Entendimento para a expansão da indústria regional de H2V. A iniciativa fundamenta-se na descarbonização da matriz energética e deverá impulsionar projetos voltados às energias renováveis, como o Programa Carbono Neutro de Fernando de Noronha, Patrimônio Natural da Humanidade.

Recentemente, o Complexo de Suape tomou a dianteira ao adotar medida inédita em portos brasileiros: será o primeiro a conceder desconto tarifário para embarcações que utilizam 100% de H2V. A iniciativa reforça o papel do Brasil para a redução de 50% das emissões da frota naval do mundo até 2050, segundo meta estabelecida pela IMO (Organização Marítima Internacional).

Nas oportunas palavras do secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, Geraldo Júlio, após a assinatura do acordo, a construção da bioeconomia exige medidas e tecnologias que consolidem nossa posição como agentes do futuro. É imenso o potencial energético das fontes eólica e solar do Nordeste.

Já há algum tempo usado como fonte de energia elétrica para a descarbonização no setor industrial, o H2V vem chamando a atenção do segmento automotivo nos últimos anos. Diante da tendência de eletrificação dos veículos, surge a preocupação em relação à sustentabilidade do combustível que alimentará as baterias. É preciso contabilizar todas as emissões associadas ao ciclo de vida do produto, e não apenas o que é emitido pelo escapamento. A conta é do “berço ao túmulo“ para se aferir qual a tecnologia veicular mais limpa para a descarbonização.

Diversas montadoras de automóveis, atentas à questão, vêm desenvolvendo novas tecnologias e estudos buscando equacionar o problema. A inovação mais promissora é um sistema de célula de combustível de Óxido Sólido (SOFC, em inglês), que extrai hidrogênio de um combustível líquido para gerar eletricidade em veículos 100% eletrificados.

Montadoras como as gigantes Nissan e Volkswagen, por exemplo, têm mostrado interesse por essa solução e percebido o diferencial estratégico em relação ao uso desta tecnologia no Brasil. Com o SOFC pode-se obter H2V diretamente do etanol, combustível sustentável, disponível em mais de 42 mil postos de abastecimento no país. É uma alternativa segura, que supera o gargalo que limita a expansão dos automóveis de última geração equipados com célula de combustível: o alto custo e a falta de uma rede de postos de recarga de hidrogênio. 

Além de contribuir para a redução das emissões de GEE dos navios e automóveis, o H2V também se apresenta como alternativa renovável nos setores aéreo e agrícola. Pode ser usado na produção de bioquerosene de aviação e servir de base para a fabricação de fertilizantes. O Brasil deve aproveitar a sua reconhecida sustentabilidade nas indústrias de alimento e bioenergia  para exportar produtos de alto valor agregado, ou mesmo o H2V.

Com tantas oportunidades abertas pelo H2V, inverte-se a lógica fácil de que é preciso encerrar o ciclo vigente antes de começar um novo. O senso de urgência da bioeconomia sugere que tenhamos de começar um novo capítulo mesmo sem terminar o capítulo anterior.

*Renato Cunha é presidente da NovaBio – Associação dos Produtores de Açúcar, Etanol e Bioenergia – e do Sindaçucar/PE – Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado do Pernambuco. Também é vice-presidente do FNS (Fórum Nacional Sucroenergético).
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