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iNFRADebate: O desafio da adoção das práticas ESG no setor de construção civil

André Marinho e Nelmara Arbex*

Uma oportuna mudança de paradigma começa a ganhar espaço nas construtoras e incorporadoras brasileiras com a adoção de práticas ESG, que englobam os aspectos sociais, ambientais e de governança dos negócios. Após anos de latência, esta nova postura chega em boa hora, uma vez que a construção civil consome até 75% de todos os recursos naturais do planeta e emprega membros de grupos mais vulneráveis da sociedade, em ambiente de risco. Somente com planejamento e direcionamento estratégico, as empresas do setor podem se preparar para operar no novo ambiente de negócios, tomar decisões capazes de reduzir possíveis danos à natureza e aumentar o bem-estar social, respeitando questões éticas e de transparência.

As práticas de ESG vão além da preocupação com a construção de edifícios verdes ou inclusivos. Hoje, mais do que respeitar as políticas ambientais para o consumo consciente de água e energia, garantir conforto, acesso e saúde aos ocupantes, é fundamental observar os impactos das questões climáticas, reforçando a agenda de geração local de energia e captação de água de chuva. Além da necessidade de estender a gestão de riscos para a cadeia de produção, é necessário ainda entender esses impactos na realidade socioeconômica da região, entre outros fatores. Todas essas ações criam um sistema complexo de iniciativas que extrapola a regulação imposta ao setor e, cada vez mais, se conecta com a reputação das empresas.

No primeiro nível de entendimento da liderança em relação à gestão dos aspectos ESG, estão o cumprimento da legislação trabalhista e o gerenciamento ambiental, de governança e de fornecedores. O esforço garante redução de multas, proteção da reputação, além de benefício sociais para todos. Com isso, um bom compliance (conformidade), com a redução de custos e mitigação de infrações, é uma forma simples de avaliar a qualidade da gestão.

No Brasil, porém, a percepção de ESG no setor imobiliário ainda é limitada à aplicabilidade das certificações ambientais. Um exemplo disso é o caso do sistema LEED, que busca incentivar a adoção de práticas de construção sustentável. Por aqui, o número de edificações que atendem às normas LEED vem aumentando, colocando o país na terceira posição do ranking mundial, com mais de cem empreendimentos certificados. Pouco, se comparado aos inúmeros que não estão adequados.

Aliás, a readequação de construções para que se tornem ambientalmente sustentáveis é uma oportunidade de grande impacto em todas as regiões urbanas, na qualidade de vida dos moradores e no meio ambiente brasileiro. Estudos indicam que implementar o conceito de ecoeficiência torna possível reduzir o consumo de água em 40%, a eletricidade em 30%, as emissões de dióxido de carbono em 35% e a geração de resíduos em 65%. Economia mais que necessária, diante de um cenário que prevê uma década de escassez de recursos hídricos e, consequente, crise energética.

Ainda podemos falar das questões da economia circular, levando o ESG para toda a cadeia de valor, considerando a redução do uso de matéria prima. Isso tem como objetivo diminuir o volume de rejeitos do processo de construção civil ou reaproveitar todos os resíduos do setor em outros processos produtivos, com uma logística de baixo carbono, possível somente no Brasil, que possui uma frota de etanol e biodiesel.

Os benefícios das práticas ESG são diretos e mensuráveis. Um exemplo disso são os Títulos Verdes, emissões de dívida para financiar projetos com benefícios ambientais auditados por organizações ou empresas independentes, que permitem às empresas captar recursos muito mais vantajosos. Em 2019, o mercado brasileiro de títulos verdes movimentou mais de um bilhão de dólares, segundo monitoramento do Climate Bonds Initiative.

Com o objetivo de estabelecer uma espécie de marco regulatório para validar projetos que possam captar recursos por meio desse tipo de emissão, o BNDES firmou, em fevereiro deste ano, um acordo de cooperação com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). Amazônia, Pantanal e regiões semiáridas do Nordeste foram listadas como locais estratégicos para iniciativas sociais e de sustentabilidade que serão apoiadas no biênio 2021-2022 – áreas que têm atraído a atenção de parceiros privados e bancos multilaterais de desenvolvimento.

A construção civil é um dos setores que mais gera empregos e possui inegável valor socioeconômico para o país. Alinhada às práticas ESG, pode gerar mudanças ainda mais relevantes e significativas para a sociedade brasileira, iniciando um interessante processo de industrialização, com qualificação e especialização da mão de obra. Cabe aos líderes, agora, manter o foco nas soluções tecnológicas e na inovação por meio dos conceitos desses conceitos, garantindo um ecossistema efetivamente sustentável e responsável.

*André Marinho é sócio-líder de Infraestrutura da KPMG no Brasil e Nelmara Arbex é sócia-líder de ESG da KPMG.
O iNFRADebate é o espaço de artigos da Agência iNFRA com opiniões de seus atores que não refletem necessariamente o pensamento da Agência iNFRA, sendo de total responsabilidade do autor as informações, juízos de valor e conceitos descritos no texto.

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