iNFRADebate: Impactos econômicos do não investimento em infraestrutura rodoviária no Brasil

Fabio Tieppo* e Thiago Nascimento**

O modal rodoviário é o principal alicerce que sustenta a malha logística brasileira e, consequentemente, um dos principais gargalos para o crescimento econômico do país. A importância desse sistema decorre de opções políticas que remontam a década de 20, do governo Washington Luís, passando pela estratégia do governo de Juscelino Kubitschek, que priorizou investimentos no setor. 

Porém, como resultado de uma série de fatores – sendo um deles a falta de investimentos –, a situação de sucateamento da malha rodoviária brasileira é notória. Embora existam exceções, grande parte das estradas, em especial as interioranas e não concedidas, apresentam condições precárias, inclusive aumentando o risco de acidentes e mortes.  

Para além do custo humano, que é incalculável, a não destinação de recursos para projetos de investimento em infraestrutura induz uma frustração de demanda no setor de construção civil, a qual leva a uma perda econômica substancial em toda a cadeia produtiva.O cenário de falta de investimentos em rodovias é verificado no Brasil, onde, segundo dados do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes)1, entre 2019 e 2020, eram necessários R$ 23,3 bilhões para obras de manutenção, duplicação e construção de trechos, mas apenas 64% desse valor foi efetivamente desembolsado.

Caso houvesse o atendimento da demanda por investimentos em estradas sobre o segmento de obras de infraestrutura, mais recursos seriam alocados no setor, o que causaria um impacto ao longo da cadeia produtiva (ressaltando a alta capacidade de geração de atividade econômica que a construção civil apresenta). 

Com mais projetos de infraestrutura, seriam demandados mais insumos, propagando o efeito positivo por diversos elos da cadeia produtiva. Por exemplo, para a construção de uma ponte, seria necessária a compra de tubos de ferro, cimento, concreto e a contratação de mão de obra, que inclui desde engenheiros até auxiliares de obra, passando pela mobilização administrativa que uma obra exige. Ainda, para atender essa demanda por insumos, os fornecedores também demandariam cada vez mais insumos, o que mobilizaria mais setores e mais trabalhadores. Por exemplo, para a produção de cimento, a empresa fornecedora precisaria de calcário, energia elétrica etc. Note que o efeito econômico incidido inicialmente sobre a construção civil se espalhou ao longo da economia, sendo capaz de atingir diversos setores além daqueles diretamente afetados pela obra.

Tais efeitos induzidos – tanto diretos quanto indiretos – decorrentes do atendimento da demanda reprimida por investimentos em obras de infraestrutura em rodovias federais podem ser estimados por meio do MIP (Modelo de Insumo-Produto).

Esse modelo econômico permite, por exemplo, a avaliação dos impactos de políticas econômicas sobre as atividades produtivas, considerando a interdependência entre os setores produtivos, sendo um ferramental robusto e reconhecido pela literatura internacional. Em um estudo elaborado pela equipe da Tendências Consultoria, no caso específico, para simular os efeitos dos investimentos reprimidos considerando as características do setor, contatou-se que diversos impactos econômicos podem ser vislumbrados.

O atendimento da demanda necessária, mas não realizada de investimentos em obras de infraestrutura geraria atividade econômica de maneira substancial. Os resultados indicam que os impactos econômicos induzidos representariam montantes significativos. Por exemplo, seriam gerados R$ 8,4 bilhões em produção, R$ 3,5 bilhões em valor adicionado (Produto Interno Bruto), R$ 1,6 bilhão em renda das famílias, R$ 365 milhões em impostos e mais de 75 mil empregos.

Tais resultados reforçam a necessidade de investimentos no setor rodoviário e seu impacto positivo na cadeia produtiva. Com relação à metodologia utilizada, a Tendências Consultoria possui uma ampla expertise em análises utilizando o ferramental Modelo de Insumo-Produto, que constitui uma referência para analisar impactos de alterações em um determinado setor e suas consequências.

1 Ver: <https://noticias.portaldaindustria.com.br/noticias/infraestrutura/rodovias-federais-demandam-r-12-bilhoes-ao-ano-mas-recebem-so-metade-dos-recursos/>. Acesso em: 7 de abril de 2022.
*Fabio Tieppo é mestre em Economia pela FEA/USP (Faculdade de Economia, Administração e Ciências Contábeis da Universidade de São Paulo). Graduado em Engenharia de Produção pela Escola Politécnica da USP e em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Na Tendências Consultoria, atua em projetos de defesa da concorrência, reequilíbrio econômico-financeiro de contratos e como assistente técnico em perícias envolvendo concessões.
**Thiago Nascimento é mestre em Teoria Econômica pela FEA/USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo), com passagem pela UIUC (University of Illinois at Urbana-Champaign), nos Estados Unidos. Graduado em Ciências Econômicas pela UnB (Universidade de Brasília). Na Tendências Consultoria, atua na área de microeconomia aplicada, com foco em modelagem de impacto econômico e de bem-estar.
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