iNFRADebate: Energia nuclear – quanto custa afinal?

Leonam dos Santos Guimarães*

Os preços da energia elétrica gerada por usinas nucleares variam significativamente em diferentes países, dependendo de fatores como a tecnologia utilizada; a fonte de combustível nuclear; a disponibilidade de recursos humanos, materiais e financeiros; os custos de construção, operação e manutenção; os custos regulatórios; a demanda local por energia; e as políticas energéticas locais.

É importante notar que as taxas de câmbio entre moedas também podem afetar o custo da energia elétrica nuclear, quando comparado entre diferentes países. Veremos a seguir alguns exemplos de preços médios da energia elétrica produzida pelas usinas nucleares em operação. Cada uma dessas usinas que compõe a média tem seus custos de capital parcial ou totalmente amortizados. Tais valores, portanto, não devem ser comparados diretamente com o preço de equilíbrio para projetos de novas usinas em andamento ou planejados, dado que seus custos de capital não foram ainda amortizados.

  • Estados Unidos: O custo médio da eletricidade nuclear nos Estados Unidos em 2020 foi de aproximadamente 65 dólares por megawatt-hora (MWh), de acordo com a Administração de Informação de Energia (EIA) dos EUA.
  • França: A França é um dos países mais dependentes da energia nuclear, com mais de 70% de sua eletricidade gerada por usinas nucleares. O preço médio da eletricidade na França em 2020 foi de cerca de 55 euros por MWh, de acordo com o Eurostat.
  • Reino Unido: Em 2020, o custo médio da eletricidade nuclear no Reino Unido foi de cerca de 75 libras por MWh, de acordo com a Agência Internacional de Energia (IAE).
  • Japão: após o desastre de Fukushima em 2011, o custo da eletricidade nuclear no Japão foi aumentado devido a regulamentações mais rigorosas. De acordo com relatório do Institute of Energy Economics (IEE), o custo em 2021 era em média de cerca de 9.000 yenes por MWh
  • China: A China tem uma das maiores capacidades nucleares do mundo, com cerca de 50 usinas nucleares em operação. Em 2020, o custo médio da eletricidade nuclear na China foi de cerca de 50 dólares por MWh, de acordo com a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma da China.
  • Brasil: A tarifa de venda de energia elétrica de Angra 1 e Angra 2 em vigor no ano de 2023 é de 347,50 reais por MWh. Essa tarifa é homologada pela ANEEL, reajustada anualmente e revisada a cada 5 anos. Note-se que o custo de capital inicial de ambas as usinas está plenamente amortizado.

É importante lembrar que esses preços são apenas indicativos e podem variar ao longo do tempo e das condições locais. Os preços da energia elétrica nuclear podem ser influenciados por vários fatores, incluindo subsídios governamentais, regulamentações ambientais e a disponibilidade de fontes alternativas de energia. Além disso, os custos da energia elétrica nuclear também podem depender do tipo de contrato de energia utilizado, com os de longo prazo muitas vezes oferecendo preços mais baixos do que os de curto prazo.

Deve-se ainda considerar que os preços da eletricidade nuclear nem sempre internalizam a totalidade dos custos. Por exemplo, o descomissionamento de desmantelamento das usinas nucleares; a gestão de combustível usado e de resíduos radioativos de baixo e médio nível de atividade; o regime de responsabilidade civil por danos causados ao público e meio ambiente por eventuais acidentes nucleares. Todos eles podem ser muito significativos em longo prazo.

Note-se ainda que os preços da energia nuclear podem variar amplamente e estão sujeitos a flutuações no mercado e mudanças nas políticas governamentais. Há uma variedade de fatores a serem considerados ao avaliar os custos e benefícios da energia nuclear, incluindo segurança, questões ambientais e impacto na saúde pública.

Em termos de segurança, a geração nuclear está dentre as que geram menor número de fatalidades provocadas por MWh produzido, como mostram os relatórios periódicos do Instituto Paul Scherer, da Suíça. Quanto às questões ambientais, é aquela com maior densidade energética e mínima “pegada ecológica”. Quanto ao impacto a saúde pública, não emitem gases poluentes nocivos nem gases de efeito estufa produzidos pela queima de combustíveis fósseis. Resta o temor de acidentes severos que ocorrem com probabilidade ínfima e decrescente na medida em que são incorporadas inovações tecnológicas, além do aumento da experiência operacional.

Cada vez mais, a energia nuclear vem desempenhando importante papel para a transição energética, no sentido da descarbonização. O urânio será, sem dúvida, indispensável para uma transição eficaz para o almejado “net zero”. Resta estabelecer qual seria sua participação nos sistemas elétricos nacionais no futuro. Essa participação será maior na medida que os custos da nucleoeletricidade sejam reduzidos. Para isso, um grande investimento em SMR (Small Modular Reactors) vem sendo feito em praticamente todo o mundo.

*Leonam dos Santos Guimarães é coordenador do comitê de acompanhamento da implementação de Angra 3 e ex-diretor-presidente da Eletronuclear (2017-2022).
O iNFRADebate é o espaço de artigos da Agência iNFRA com opiniões de seus atores que não refletem necessariamente o pensamento da Agência iNFRA, sendo de total responsabilidade do autor as informações, juízos de valor e conceitos descritos no texto.

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