iNFRADebate: Como a logística e a infraestrutura andam de mãos dadas no preço final das commodities?

Luciano Machado*

Com os preços cada vez mais altos, a locomoção da carga se torna parte importante do custo, ainda mais em um país onde o frete rodoviário representa 60% do total. A noção da malha de transportes no país é muito importante para reduzir custos. As rotas, características de cada estrada, o preço do pedágio, a proximidade com os clientes e até o custo com a segurança do transporte são fatores cruciais no preço final de todos os produtos.

Essa realidade, atrelada ao custo inflacionado da gasolina, transformam o frete de commodities no mais caro do país. Para as empresas não basta vender o produto, mas também serem especialistas em logística. Assim, o investimento em infraestrutura se torna fundamental para atacar a crise inflacionária pela qual passamos. Se a ampliação da malha ferroviária, que pode ser uma ótima alternativa, ainda não encontra projetos, a solução é investir no transporte por meio das rodovias. 

Estudo do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP) aponta que a menor demanda externa e a cautela dos compradores domésticos, devido ao elevado frete rodoviário, estão pressionando até mesmo as cotações do complexo soja e seus derivados no país, que recuou 2,5% na média das regiões acompanhadas pelo Cepea. 

O mercado sabe disso, pois um estudo anual da Abdib (Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base) indica que os setores de transportes e logística devem receber cerca de R$ 124 bilhões até 2026.

Os retornos podem ser ainda maiores em São Paulo, historicamente um dos pontos finais da logística de todo o país. Com uma rede enorme de rodovias, o estado consegue conectar todos seus municípios e escoar boa parte da produção pelo porto de Santos, além de ser o maior centro de consumo final de produtos e grande produtor agrícola. 

Com o setor de produção agrícola no estado já consolidado, o planejamento se volta para essas estradas que comunicam as regiões produtoras interligando municípios e que muitas vezes são de tamanho menor, ou até de terra, mas fundamentais para os processos de logística. Otimizar as rotas de laranja, café, soja, cana-de-açúcar e arroz deve ser a principal preocupação agora. 

A importância é tamanha que o governo investiu recentemente R$ 2,9 bilhões em licitações para sua reforma e ampliação. A proposta, que teve início em agosto, é a parte nove de um plano que soma R$ 9,4 bilhões de reais em investimentos nas vias de conexão entre municípios.

Como por exemplo a região do Vale do Rio Preto, famosa pela produção de cana-de-açúcar, borracha e laranja. A microrregião possui 35 usinas e concentra 80% da produção de cana-de-açúcar do estado, mas ainda está em déficit quanto à sua locomoção, sendo um dos focos com 569,2 km abertos para concorrência. Ou da região de Araraquara e São Carlos, fortes produtores de laranja que terão 55 km em oito diferentes rodovias vicinais em obras.

É importante notar que não é só o deslocamento da produção que é afetado, mas também o dos trabalhadores do campo, que muitas vezes ficam isolados, sem conseguir chegar até as lavouras ou ter acesso básico a serviços como educação e saúde. 

Por mais que as rodovias principais do estado sejam conhecidas por sua qualidade, ainda falta muito no que diz respeito às chamadas estradas vicinais, aquelas que possuem só um sentido de ida e volta. Basta pensar no período das chuvas de início do ano, por exemplo. Variações como a do clima são tidas sempre como imprevisíveis, mas se repetem frequentemente e não podem ser consideradas como fator externo ao planejamento, especialmente quando podem gerar um efeito dominó afetando toda a cadeia produtiva.

*Luciano Machado é engenheiro civil pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, com MBA em gestão empresarial pela FGV (Fundação Getulio Vargas), especialista em geotecnia pelo Inbec (Instituto Brasileiro de Educação Continuada) e filósofo pela Universidade Cruzeiro do Sul.
O iNFRADebate é o espaço de artigos da Agência iNFRA com opiniões de seus atores que não refletem necessariamente o pensamento da Agência iNFRA, sendo de total responsabilidade do autor as informações, juízos de valor e conceitos descritos no texto.

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