iNFRADebate: A exportação de serviços de engenharia

Tatiane Wildt* e Márcio Tesser**

A exportação de serviços de engenharia é amplamente utilizada por países desenvolvidos, como Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido e Japão. A China vem se destacando nesse segmento, com ativos localizados principalmente na América Latina e África. No Brasil, a exportação desse tipo de serviço saiu de pauta em decorrência da politização descontextualizada da temática. Questionamentos ao apoio à exportação pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) por vezes partem do princípio de fiscalização do custo dos insumos que compõem a exportação. Todavia, o cumprimento do objetivo do apoio ocorre pela ótica de país vendedor, cujo interesse é a realização da venda; e não pela ótica de país comprador, interessado na minimização dos custos de construção e nos benefícios gerados pelo uso do empreendimento.

Ao se criticar a exportação desses serviços e o apoio outrora oferecido pelo BNDES, dois erros de discurso são frequentemente reverberados. O primeiro diz que o BNDES investe mais dinheiro na exportação de serviços do que no desenvolvimento da infraestrutura nacional, o que não é verdade – a exportação de bens e serviços de engenharia representou, entre 2003 e 2018, 1,3% do total desembolsado pelo BNDES, enquanto investimentos na infraestrutura nacional, no mesmo período, responderam por 36%. O segundo equívoco diz que o banco traz prejuízos para o Brasil com esse tipo de atividade, mas o BNDES desembolsou R$ 10,499 bilhões para os exportadores, e recebeu R$ 12,653 bilhões em pagamentos nos últimos anos, com outros R$ 1,097 bilhão de saldo devedor a vencer.

Esse tipo de serviço é importante, pois gera empregos no país de origem, fomenta a indústria nacional e cria uma longa cadeia de fornecimento de bens e serviços com empregos de alto valor agregado e aumento da renda per capita da população. No contexto da desindustrialização da economia brasileira nos últimos anos, retomar o investimento em serviços de alta qualidade é um passo importante para a formalização do emprego no país, visto que o agronegócio, apesar de pujante, não consegue absorver toda essa mão de obra ociosa.

Além disso, nos últimos anos, o Brasil se tornou um importador de serviços de engenharia. O BNDES, criado em 1952 para incentivar o desenvolvimento econômico do país, está, 70 anos depois, fomentando empresas estrangeiras com recurso nacional. Fábio Abrahão, diretor de Concessões e Privatizações do banco, em entrevista disse que o foco é viabilizar a entrada de novos players no mercado de infraestrutura em geral no Brasil. Seria o desmantelamento nacional? Isso tudo em um momento de crise e repressão, em que as empresas nacionais urgem por recursos e espaço para se manterem erguidas, trabalhar e não perder expertise.

Um estudo do Sinicon (Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada-Infraestrutura) mostra que, a cada R$ 1 milhão investido em infraestrutura, o PIB (Produto Interno Bruto) do país é elevado em R$ 1,44 milhão. Isto significa que, investindo R$ 28 bilhões em infraestrutura, teremos 943,5 mil novos postos de trabalho, R$ 40 bilhões a mais no PIB, R$ 6,4 milhões em impostos e R$ 14,4 bilhões em salários circulando na economia. Vale lembrar também que o setor tem alta formalização do trabalho (79%), colocando-se bem acima da média brasileira (45%). Dessa forma, precisamos ter em mente que é importante retomar as políticas públicas para o fomento desse tipo de atividade e recuperarmos o tempo de inatividade. Precisamos voltar a gerar emprego, renda, crescimento e desenvolvimento econômico, para além de projetar o Brasil no exterior apenas como celeiro do mundo.

*Tatiane Wildt é coordenadora do núcleo de Infraestrutura da BMJ Consultores Associados.
**Márcio Tesser é consultor de Infraestrutura da BMJ Consultores Associados.
O iNFRADebate é o espaço de artigos da Agência iNFRA com opiniões de seus atores que não refletem necessariamente o pensamento da Agência iNFRA, sendo de total responsabilidade do autor as informações, juízos de valor e conceitos descritos no texto.

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