Gestão & Reputação: O retorno da energia nuclear e a perspectiva da comunicação

Agnaldo Brito*

Não foi propriamente o resultado da COP26, Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas, que produziu uma reconciliação do mundo desenvolvido (e o mundo em desenvolvimento) com a energia nuclear. Relatórios preocupantes sobre os gases de efeito estufa que se acumulam na atmosfera jogaram luzes para uma questão importante: como abastecer o mundo com eletricidade sem queimar carvão ou combustível fóssil? Pode não parecer, mas há muito da estratégia comunicacional nessa questão.

A descarbonização da matriz de geração elétrica no mundo passa necessariamente pelo uso de centrais nucleares, goste-se ou não. Fontes limpas (eólica e solar à frente) são importantes, mas não resolvem um dilema em qualquer sistema de transmissão e distribuição de energia – a garantia da energia firme. Em outras palavras: a certeza de que, independentemente das condições climáticas, haverá geração suficiente para energizar a rede e manter o mundo funcionando.

Chamo a atenção para a recente reconciliação do mundo desenvolvido com a energia gerada em termonucleares por uma razão: uma parte dessa conversa foi gerada por um esforço de comunicação que recolocou o debate sobre o tema da geração termonuclear sob outra perspectiva – e aqui está a chave. França e Alemanha, contumazes usuárias da energia nuclear em seus sistemas, abriram o debate e anunciaram que não temos como ignorar o fato de haver uma fonte de energia que não gera gases de efeito estufa na base da produção energética.

Essa discussão para mostrar como a comunicação no mundo da infraestrutura é um tema diverso e repleto de consequências e de perspectivas. Defender a geração de energia em centrais termonucleares, sobretudo após as consequências perigosas do terremoto no Japão – que impactou gravemente a infraestrutura da usina nuclear de Fukushima – era algo impensável há bem pouco tempo. A gravidade da situação climática em todo o mundo exigiu uma revisão dessa oposição.

Retomo o debate sobre o papel da comunicação e como é importante trabalharmos temas complexos do mundo da infraestrutura com clareza e ponderação. As companhias que estão à frente desses projetos – de qualquer projeto, a bem da verdade – possuem um papel importante nesse trabalho cotidiano, e este não é o de esconder problemas e desafios da infraestrutura em questão. No caso específico, jamais caberá dizer que não há riscos para o mundo com a energia nuclear, mas cabe sim fomentar o debate sobre como esses projetos devem seguir regras e protocolos, e qual o papel que cumprem na oferta de serviços no mundo moderno e altamente demandante de insumos.

A construção reputacional de projetos de infraestrutura não é uma tarefa simples e jamais será. Envolve a construção de um propósito que possua respaldo coletivo e que, sobretudo, tenha o compromisso com a transparência das informações e das atitudes. Envolve a mobilização das empresas em direção aos públicos de interesse na busca de uma interlocução madura. Envolve também a mobilização do alto comando das companhias na mudança interna de cultura. Em linhas gerais, envolvem todos os temas que temos tratado neste espaço nos últimos meses.

O resgate da energia nuclear como opção na matriz energética no mundo revela como a construção da comunicação, como a perspectiva de abordagem de um tema, tem capacidade de influenciar questões complexas e recuperar a posição estratégica de uma opção energética que parecia, há bem pouco tempo, descartada para sempre.

*Agnaldo Brito é diretor de Comunicação em Infraestrutura na LLYC (LLORENTE Y CUENCA), consultoria global de gestão da reputação, presente em 13 países.

As opiniões dos autores não refletem necessariamente o pensamento da Agência iNFRA, sendo de total responsabilidade do autor as informações, juízos de valor e conceitos descritos no texto.

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