Europa pode substituir gás por fonte nuclear, diz presidente da Eletronuclear

Europa pode substituir gás por fonte nuclear, diz presidente da Eletronuclear

20 de abril de 2022

Ludmylla Rocha, da Agência iNFRA

A guerra entre Rússia e Ucrânia pode ser um elemento decisivo para que a Europa reveja definitivamente sua posição frente à ampliação da energia nuclear na matriz energética, avalia o presidente da Eletronuclear, Leonam dos Santos Guimarães.

“É provável que os países da Europa passem a enxergar a construção de usinas nucleares como uma forma de evitar a dependência do gás natural russo”, disse à Agência iNFRA. “A impossibilidade de contar com o suprimento do gás russo, do qual a Europa é altamente dependente, pode atrasar a descarbonização do continente e ampliar o papel da energia nuclear”, completou.

Para ele, tanto o gás natural, que tem sido visto como energia de transição, quanto a energia nuclear devem ter papel de destaque na busca do velho continente pela descarbonização da matriz energética.
Com as restrições que vêm sendo implantadas à Rússia por conta dos ataques à Ucrânia, até mesmo casos simbólicos como a Alemanha podem apontar para a retomada dos investimentos na energia nuclear.

“Os planos de construção do gasoduto Nord Stream 2, para transportar gás da Rússia até o país, foram abandonados com o conflito na Ucrânia. É plausível que a energia nuclear ressurja como opção no país”, opina.

Movimento é anterior ao conflito
Guimarães destaca, porém, que a movimentação na Europa para retomada dos investimentos na fonte é anterior ao início da guerra no continente. “No início deste ano, a Comissão Europeia aprovou proposta para classificar a energia nuclear como uma fonte sustentável. Essa decisão busca impulsionar investimentos privados nessa fonte”, lembrou.

Ele aponta que a decisão está associada ao reconhecimento de que usinas nucleares não são geradoras de gases estufa unido a “uma ênfase maior em segurança técnica e proteção física nas usinas nucleares contra eventos externos”.

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Segundo o mandatário da empresa brasileira, esse movimento “já tinha se tornado tendência no mundo, em parte, por conta da crescente preocupação com ameaças terroristas. Outro fator contribuinte foi o acidente de Fukushima, ocorrido em 2011 no Japão. A própria Ucrânia abordou deficiências em suas plantas, especialmente depois que a Rússia ocupou a Crimeia, em 2014”.

Preocupação na Ucrânia
Em relação à tomada da central nuclear de Zaporizhzhia, a maior da Europa, pelas forças militares russas, Guimarães admite que “provocou uma grande crise”. “A Agência Internacional de Energia Atômica [AIEA] se viu compelida a intervir e tem agido junto a ambos os países para tentar garantir a segurança não só da central em questão, mas também das demais instalações nucleares ucranianas, ameaçadas pelo avanço do conflito”, explicou.

A instituição, disse, solicitou à Rússia que a segurança fosse mantida em sete áreas de segurança. “Isso pode se tornar a base para negociações multilaterais em situações de conflito armado que venham a ameaçar instalações nucleares”, completou.

Cooperação e vida útil
Guimarães destacou outros dois impactos do conflito que podem afetar a ampliação da energia nuclear como fonte de energia. A primeira delas é a interrupção da construção de usinas que contavam com parcerias junto à Rússia.

“Países que estão construindo usinas nucleares com a cooperação da Rússia, como Turquia e Finlândia, podem ser forçados a reconsiderar seus compromissos de longo prazo com a nação. Além das questões de segurança nacional, é possível que os russos não tenham capacidade de financiar esses empreendimentos”, explicou.

Outro aspecto é a eventual reconsideração de planos para estender a vida útil de usinas nucleares “que tendem a ter vulnerabilidades maiores”.