Europa pode substituir gás por fonte nuclear, diz presidente da Eletronuclear

Ludmylla Rocha, da Agência iNFRA

A guerra entre Rússia e Ucrânia pode ser um elemento decisivo para que a Europa reveja definitivamente sua posição frente à ampliação da energia nuclear na matriz energética, avalia o presidente da Eletronuclear, Leonam dos Santos Guimarães.

“É provável que os países da Europa passem a enxergar a construção de usinas nucleares como uma forma de evitar a dependência do gás natural russo”, disse à Agência iNFRA. “A impossibilidade de contar com o suprimento do gás russo, do qual a Europa é altamente dependente, pode atrasar a descarbonização do continente e ampliar o papel da energia nuclear”, completou.

Para ele, tanto o gás natural, que tem sido visto como energia de transição, quanto a energia nuclear devem ter papel de destaque na busca do velho continente pela descarbonização da matriz energética.
Com as restrições que vêm sendo implantadas à Rússia por conta dos ataques à Ucrânia, até mesmo casos simbólicos como a Alemanha podem apontar para a retomada dos investimentos na energia nuclear.

“Os planos de construção do gasoduto Nord Stream 2, para transportar gás da Rússia até o país, foram abandonados com o conflito na Ucrânia. É plausível que a energia nuclear ressurja como opção no país”, opina.

Movimento é anterior ao conflito
Guimarães destaca, porém, que a movimentação na Europa para retomada dos investimentos na fonte é anterior ao início da guerra no continente. “No início deste ano, a Comissão Europeia aprovou proposta para classificar a energia nuclear como uma fonte sustentável. Essa decisão busca impulsionar investimentos privados nessa fonte”, lembrou.

Ele aponta que a decisão está associada ao reconhecimento de que usinas nucleares não são geradoras de gases estufa unido a “uma ênfase maior em segurança técnica e proteção física nas usinas nucleares contra eventos externos”.

Segundo o mandatário da empresa brasileira, esse movimento “já tinha se tornado tendência no mundo, em parte, por conta da crescente preocupação com ameaças terroristas. Outro fator contribuinte foi o acidente de Fukushima, ocorrido em 2011 no Japão. A própria Ucrânia abordou deficiências em suas plantas, especialmente depois que a Rússia ocupou a Crimeia, em 2014”.

Preocupação na Ucrânia
Em relação à tomada da central nuclear de Zaporizhzhia, a maior da Europa, pelas forças militares russas, Guimarães admite que “provocou uma grande crise”. “A Agência Internacional de Energia Atômica [AIEA] se viu compelida a intervir e tem agido junto a ambos os países para tentar garantir a segurança não só da central em questão, mas também das demais instalações nucleares ucranianas, ameaçadas pelo avanço do conflito”, explicou.

A instituição, disse, solicitou à Rússia que a segurança fosse mantida em sete áreas de segurança. “Isso pode se tornar a base para negociações multilaterais em situações de conflito armado que venham a ameaçar instalações nucleares”, completou.

Cooperação e vida útil
Guimarães destacou outros dois impactos do conflito que podem afetar a ampliação da energia nuclear como fonte de energia. A primeira delas é a interrupção da construção de usinas que contavam com parcerias junto à Rússia.

“Países que estão construindo usinas nucleares com a cooperação da Rússia, como Turquia e Finlândia, podem ser forçados a reconsiderar seus compromissos de longo prazo com a nação. Além das questões de segurança nacional, é possível que os russos não tenham capacidade de financiar esses empreendimentos”, explicou.

Outro aspecto é a eventual reconsideração de planos para estender a vida útil de usinas nucleares “que tendem a ter vulnerabilidades maiores”.

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