Estudo da PSR aponta que interferência política no setor causa impacto para consumidores

Estudo da PSR aponta que interferência política no setor causa impacto para consumidores

13 de setembro de 2022

Roberto Rockmann, colunista da Agência iNFRA

O custo de Brasília interferir no setor elétrico tem sido crescente e começará a ser visível no fim do mês, com a contratação de 2 GW de térmicas a gás natural. Nos últimos dois anos, uma série de medidas legislativas foi aprovada em Brasília com impactos sobre os consumidores e contribuintes no curto, médio e longo prazo.

Além de onerarem as tarifas e serem alocadas prioritariamente no mercado cativo (residências e pequenas indústrias, ou baixa tensão no jargão do setor), essas leis ampliam distorções, consolidam a mini e microgeração distribuída solar e ainda aumentam as emissões de poluentes em um setor em plena transição energética. Esses são pontos levantados no estudo da PSR feito sob encomenda para o Ministério da Economia, cuja primeira parte foi divulgada nesta segunda-feira (12) pela Agência iNFRA.

Em 30 de setembro, daqui a duas semanas, o setor realizará o primeiro leilão com base na Lei 14.182/2021, que permitiu a capitalização da Eletrobras, mas trouxe a obrigação da contratação de 8 GW de térmicas. No fim deste mês, prevê-se a contratação dos primeiros 2 GW, em um certame que deve ser marcado pela baixa competição.

Levado a cabo todo o projeto, ou seja, a contratação dos 8 GW, ele não apenas elevará a sobrecontratação no mercado cativo como também tornará o setor mais vulnerável a oscilações de preços e estiagens. Nas entrelinhas, ganha importância contabilizar as mudanças climáticas, já que ameaças sobre o risco hidrológico podem crescer em um segmento em que as garantias físicas das hidrelétricas são um calcanhar de Aquiles histórico.

No estudo, a PSR estima que a sobreoferta física de energia elétrica, entre 2022 e 2030, pode superar 20% em média em alguns anos nesse período. Isso se alia ao fato de que o GSF (sigla para o risco hidrológico) deve permanecer abaixo de 1 em boa parte dessa década, o que significa que as hidrelétricas, que respondem por mais da metade da eletricidade gerada no país, não conseguirão gerar ao menos a sua garantia física. A sobreoferta tende a pressionar os preços do mercado físico para baixo, o que pode reduzir margens de agentes que já negociam contratos e tornar a migração para o mercado livre ainda mais vantajosa.

Preços insuficientes
As simulações da PSR ainda apontam um impacto de R$ 40 a R$ 50 o MWh no preço de curto prazo, se contratados os 8 GW e considerados os preços-teto estipulados na lei, mas os valores podem estar bastante subestimados, segundo a própria consultoria alerta no estudo. Por quê?

Porque muitos agentes têm informado que o preço estabelecido seria insuficiente para cobrir todos os custos operativos e de investimento, “especialmente no que diz respeito à construção de gasodutos até estes locais sem suprimento de gás atualmente. Assim, tem sido realizado um trabalho no âmbito legislativo para incluir a cobertura desse custo de investimento em outros encargos setoriais, como a CDE [Conta de Desenvolvimento Energético] por exemplo, para garantir a viabilidade dessa contratação. Portanto, os valores estimados nesse trabalho podem ser interpretados como um valor inferior do possível impacto desta contratação”.

O mau resultado não está apenas no bolso de consumidores e agentes, mas também chegará aos pulmões. Estende-se ainda à esfera ambiental, já que “a entrada em operação de UTEs (usinas termelétricas) com tamanha inflexibilidade operativa dificulta ainda mais o atingimento das metas climáticas – especialmente na redução das emissões de gases de efeito estufa – com as quais o Brasil vem se comprometendo”.

O jabuti da Lei 14.182 ainda implica a contratação de 50% da demanda de energia nova em PCHs (pequenas centrais hidrelétricas) e abre a possibilidade de postergação de subsídios dados ao Proinfa, criado em 2004. Não foi intromissão única do Legislativo.

Transição energética
Em 2022, foi ainda sancionada a Lei 14.299, que criou o programa de transição energética justa, postergando o descomissionamento de térmicas a carvão mineral. Também no início do ano foi aprovado o novo marco legal da geração distribuída solar, a Lei 14.300.

Segundo o estudo da PSR, “no caso da mini e microgeração distribuída existe um subsídio implícito concedido aos adotantes desta tecnologia devido a metodologia vigente de net metering que permite a compensação integral das tarifas de fornecimento”. Em uma das simulações, estima-se a VPL (valor presente líquido), com base em uma taxa de desconto de 7,32% – WACC do setor de distribuição aprovada em 2020 –, os subsídios chegam a R$ 70 bilhões até 2040.

Com mais de 600 páginas, o estudo da PSR ainda não foi tornado público e foi obtido por meio de um pedido com base na Lei 12.527/2011, de Acesso à Informação, ao Ministério da Economia. O estudo foi comentado em um webinar realizado em 5 de agosto, o que ensejou a solicitação. Foi encomendado pela Secretaria de Desenvolvimento de Infraestrutura com intuito de avaliar as implicações financeiras e econômicas de diferentes formas de estruturar a abertura do mercado livre para todos os consumidores.

Uma das preocupações da Secretaria são as “diferentes arbitragens” que existem no setor e “privilegiam certos segmentos, comprometendo a ampla e justa concorrência”. Outro receio é a elevação do preço da energia que tem reduzido a competitividade de indústrias a tal ponto que inviabilizaria sua produção.