Erros em modelo de preços de energia provocaram distorções de até 200%, dizem agentes


Leila Coimbra, da Agência iNFRA

Problemas recorrentes no modelo computacional de preço da energia no mercado de curto prazo – o PLD (Preço de Liquidação de Diferenças) – têm irritado os agentes do setor elétrico. Um erro no coeficiente de intercâmbio da geração de Itaipu (onde o sinal positivo foi trocado pelo negativo) distorceu o preço da energia em até 200% em algumas horas do dia.
 
Essa falha fazia com que a operação do sistema entendesse que quanto maior fosse a geração da hidrelétrica de Itaipu, menos energia a região Sul poderia receber. Mas, na realidade, era o contrário. O problema foi corrigido no dia 4 de maio.
 
Imprecisões estão aparecendo repetidamente desde a entrada em operação do modelo computacional Dessem, em 1º de janeiro, para a contabilização do preço horário, segundo as fontes. “Isso prejudica o cálculo do PLD e talvez impacte na operação do sistema”, diz um executivo do setor.
 
Carta da Abraceel
Nesta semana, a Abraceel (Associação Brasileira das Comercializadoras de Energia Elétrica) enviou um documento às autoridades queixando-se das falhas recorrentes que impactam no cálculo do PLD.
 
Endereçada à ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), ao MME (Ministério de Minas e Energia), ao ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) e à CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), a carta apontava especificamente para um problema ainda sem solução: o trecho de vazão reduzida de Belo Monte.

O modelo impede a usina de gerar em sua capacidade máxima porque faz uma previsão da vazão semanal da bacia, e não diária. “Destaca-se que os rios da bacia amazônica apresentam forte sazonalidade e altas variações diárias tornando essa comparação (semanal x diária) inconsistente”, diz a carta da associação.
 
A correspondência relata que as inconformidades no trecho de vazão reduzida de Belo Monte chegaram a distorcer o preço da energia em 193%.

Rio Madeira
Uma outra inconsistência citada no documento ocorreu com a geração das usinas do Rio Madeira. Em 28 de janeiro foi identificado um problema no limite de recebimento da energia no Sudeste/Centro-Oeste, levando ao descolamento de preço da energia desse submercado em relação aos demais.
 
Foi feita uma tentativa de correção em 1º de fevereiro, sem sucesso, e o problema só foi efetivamente corrigido em 6 de fevereiro.
 
“A representação equivocada do limite de importação reduziu no Dessem o fluxo total de recebimento de energia do submercado Sudeste/Centro-Oeste em 400 MW, com impacto de até R$ 20/MWh na média do PLD diário e de até R$ 35/MWh em determinadas horas do dia”, diz o documento da Abraceel.

“É aprimoramento, não erro”
Uma fonte governamental que preferiu não falar publicamente disse que problemas pontuais foram detectados no modelo, mas já foram resolvidos, como no caso de Itaipu e do Rio Madeira.
 
No caso do trecho de vazão reduzida de Belo Monte, há o reconhecimento, por parte da autoridade, de que é preciso um aprimoramento do modelo, que hoje faz a previsão da vazão semanal da bacia do Xingu, onde está a usina.
 
“Não é uma questão de erro, mas um aprimoramento, que já foi reconhecido pela CCEE e pelo ONS que precisa ser feito. A ANEEL é quem vai dar as regras para isso”, disse.
 
De acordo com a fonte, Belo Monte não tem o modelo adaptado para a previsão de vazão diária, chamado de “smap”, e utiliza um mais antigo, o “previvaz”.
 
O objetivo é fazer o ajuste dessa modelagem, ou aprimoramento, mas dentro do rito de 30 dias de antecedência, segundo a autoridade: “Por melhor que seja a intenção, não podemos pegar o setor de surpresa, fazer no açodamento. Tem gente que fez previsões comerciais com base nessas regras, então tudo tem que ser feito com prazos e avisos. Existem regras no setor que precisam ser aprovadas até junho para entrar em vigor somente no ano seguinte. É a previsibilidade”, disse.
 
O cronograma para ajustar o trecho de vazão reduzida de Belo Monte, afirmou, seria até 1º de julho: “Se acatarmos as sugestões da Abraceel em maio e for para o PMO de junho, pode entrar em 1º de julho”, assegurou.
 
Procurados, a ANEEL e o ONS não puderam responder imediatamente sobre o assunto. Já a CCEE informou que está analisando o caso.

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