Eletrobras avalia investir em térmicas a gás, diz CEO da empresa

Ludmylla Rocha e Leila Coimbra, da Agência iNFRA

Após a conversão da Medida Provisória 1.031 na Lei 14.182, de 12 de julho, que autoriza a capitalização da Eletrobras, a estatal caminha para se tornar uma ‘corporation’ e retomar a sua capacidade de investimentos. O presidente da empresa, Rodrigo Limp, falou sobre os próximos passos do processo, em entrevista à Agência iNFRA.

Segundo Limp, investimentos em térmicas a gás no futuro estão sob análise: “Nós vamos, sim, avaliar. Não temos nenhum óbice a investir em termelétrica a gás natural. Muito pelo contrário, entendemos que o gás natural é uma fonte importante no contexto de transição energética, e também para trazer a segurança energética. Isso não só no Brasil, mas no mundo”, disse.

O engenheiro eletricista, que comanda a companhia desde maio, ressalta, porém, que a “vocação principal” da empresa é a de fontes renováveis. “Naturalmente vamos buscar investimentos em fontes eólica e solar, que eu diria que são as grandes fontes na expansão da nossa oferta e, principalmente, no mercado livre, que já é uma realidade”, declarou.

O executivo disse que considera a segregação da parte nuclear e a comercialização da energia de Itaipu na nova estatal a parte mais “desafiadora” do processo de capitalização. Isso precisa ser feito antes da emissão das ações.

A ideia, de acordo com Limp, não é fazer uma cisão das empresas, mas a criação de uma nova estatal pela União, que faria uma capitalização na Eletronuclear. Com isso, a Eletrobras, que hoje é controladora da Eletronuclear, continuaria no capital da empresa, mas sendo sócia minoritária.

A Eletrobras também passará a gerenciar o risco hidrológico, que hoje é alocado diretamente no consumidor, com o fim do regime de cotas. Segundo o CEO, para se proteger desse risco, a empresa começa a estabelecer, dentro da sua estratégia de comercialização, formas para se proteger fazendo hedges. Confira a seguir os principais trechos da entrevista:

Agência iNFRA: Quais são os próximos passos do processo de capitalização depois da conversão da Medida Provisória 1.031 em lei? Qual a sua posição a respeito dos vetos?
Rodrigo Limp: Tivemos a sanção da lei e os vetos, que são alinhados com a melhor modelagem, e entendemos isso de forma positiva. Já estamos trabalhando com o BNDES para fundamentar a bonificação da outorga, o que parte de algumas premissas que estão sendo tratadas, como estimativa do preço da energia, do GSF [sigla em inglês para o risco hidrológico], e período da descotização.

Tem a segregação de Eletronuclear e Itaipu, que teremos numa etapa anterior à operação em si. A Eletrobras vai contratar o sindicato de bancos para fazer a operação de emissão de ações do follow on. Tem também o valuation da Eletrobras, que determina o valor das ações. Assembleia é em janeiro e a emissão em fevereiro, e esse é um cronograma desafiador.

Após a capitalização, qual será o portfólio de investimentos da Eletrobras? Cabem investimentos em termelétricas, como determinou a própria MP, que obriga a contratação de 8GW?
A Eletrobras tem por natureza vocação para fontes renováveis. Hoje 97% da nossa produção é hidrelétrica, mas também temos participação em empreendimentos eólicos, de energia solar, nuclear, que é uma energia forte do portfólio.

Quando a gente olha o futuro, está no planejamento uma diversificação dos investimentos. Naturalmente vamos buscar investimentos em eólica e solar, eu diria que são as grandes fontes de crescimento da expansão da nossa oferta, e principalmente do mercado livre, que já é uma realidade. Hidrelétricas também vamos sempre avaliar, mas hoje temos dificuldades de investimentos em grandes projetos hidrelétricos.

Sobre termelétricas, está dentro do nosso planejamento avaliar. Vamos sim avaliar, não temos nenhum óbice a investir em termelétricas a gás natural, muito pelo contrário, entendemos que o gás natural é uma fonte importante dentro do contexto de transição energética e para trazer segurança, isso não só no Brasil, mas no mundo todo. Mas primordialmente eu diria que os nossos investimentos se concentram em fontes renováveis.

Vamos investir, mas considerando as premissas de disciplina financeira, de rentabilidade mínima, e que sejam alinhados com o nosso planejamento estratégico.

Haverá um novo processo de demissão voluntária? Qual é o objetivo em termos de quantidade de empregados?
Esse plano de demissão consensual estava previsto antes da medida provisória para ser realizado em 2021. Não é algo novo, já estava previsto e visa adequar a quantidade de empregados da Eletrobras ao que entendemos como ideal. O objetivo é ficar na ordem de 11.600 funcionários aproximadamente. Hoje temos 12 mil e pouquinho. Mas ainda não há uma decisão.

Em relação ao GSF [Generation Scaling Factor], hoje no regime de cotas a Eletrobras está razoavelmente protegida, mas vai ficar com o risco hidrológico depois da descotização. Qual é a sua visão de futuro da Eletrobras em relação ao GSF?
Esse é um ponto bem importante. De fato, a gente vai passar a gerenciar o risco hidrológico que hoje é alocado diretamente no consumidor. A Eletrobras vai ter que estabelecer, dentro da sua estratégia de comercialização, formas para se proteger desse risco fazendo hedges. Esse hedge pode ser tanto no quantitativo do que ele comercializa, considerando outras fontes na aquisição de energia, ou na produção de energia de outras fontes.

Nós já estamos trabalhando no aprimoramento das nossas políticas de comercialização justamente nos preparando para esse novo cenário, não só de descotização, mas de crescimento de mercado livre e de tendência de modernização do setor elétrico, em que nós pretendemos reforçar o nosso papel de comercializador de energia. 

No caso da cisão da parte que vai ficar estatal, como será esse processo? 
Ainda não está totalmente definido. Já há estudos sobre o tema, mas ainda não está batido o martelo. A ideia não é ser uma cisão das empresas. O que tem sido pensado, e estamos trabalhando nesse sentido, é que uma nova empresa estatal deve ser criada caso a União decida. Essa é uma decisão da União.

Eu acredito que o caminho seja criar uma nova empresa e essa empresa fazer uma capitalização da Eletronuclear e, com isso, a Eletrobras, que é controladora da Eletronuclear, deixaria de ser controladora, mas continuaria sendo sócia. A gente teria nossa participação diluída passando a ser acionista minoritário e a nova empresa seria acionista controladora.

Qual seria o cronograma?
Em termos de cronograma, isso tem que acontecer antes da capitalização. Isso porque uma das condições da capitalização é a assembleia concordar com a segregação, então para isso nós já temos que ter essa empresa nova constituída e capitalizada.

Esse modelo de corporation atrai um certo tipo de investidor específico? 
É aberto. A gente vê pelas conversas que nós temos e pela quantidade de demandas que temos recebido um interesse muito grande. Primeiro, porque a Eletrobras é uma empresa muito sólida, tem um parque gerador muito consolidado, um sistema de transmissão muito robusto, é uma empresa com grande experiência e qualidade técnica, com potencial de crescimento grande e, principalmente, com a capitalização.

Também pelo porte da operação. Vai ser uma operação da ordem de R$ 25 bilhões, ainda não tem o valor, mas a primeira estimativa era dessa ordem. Então atrai sem dúvida investidores aí, não só brasileiros, como investidores também internacionais.

Será feita uma emissão no mercado externo?
Isso a gente ainda está avaliando. O fato de termos ADRs [American Depositary Receipt] em Nova York cria uma perspectiva muito positiva para a gente fazer a operação lá também. Ainda não tem definição, mas existe uma possibilidade bem significativa de fazermos lá, sim.

A Eletrobras e suas subsidiárias, como Furnas e Chesf, possui algumas das principais hidreléticas do país. Como está a geração nesse momento de escassez hídrica?
Hoje o grande esforço, e o desafio que tem sido feito e coordenado pelo Ministério [de Minas e Energia], é no sentido da garantia do fornecimento de energia elétrica. Eu vejo o governo e o setor elétrico bem estruturados, uma governança bem definida, tomando as medidas necessárias para que a gente tenha a segurança do fornecimento. Particularmente, eu tenho total confiança de que vamos conseguir atender o consumo de energia, apesar de estarmos, de fato, em uma crise hídrica de grande gravidade.

Eu acho que a Eletrobras, como maior gerador, tem um papel fundamental no sentido de manter a máxima disponibilidade dos ativos de geração. Hoje mesmo [quinta, dia 22], retomamos a produção da nossa usina de Angra 2, que estava paralisada, antecipando em relação ao cronograma anterior. Isso contribui tanto para reduzir custos quanto para aumentar a segurança do fornecimento de energia elétrica.

A Eletrobras, por ter uma quantidade maior de rede de transmissão, ela também está mantendo a máxima disponibilidade, o que contribui no intercâmbio de energia entre as regiões otimizando a produção de energia, e utilização dos recursos energéticos.

Existe alguma previsão de venda de ativos? Por exemplo, recentemente, Cemig e Light estão dizendo que querem vender participação em Belo Monte, Santo Antônio… São hidrelétricas onde a Eletrobras possui uma grande participação.
A gente sempre está aberto a avaliar tanto a possibilidade de compra quanto de venda, mas esses ativos estruturantes não estão à venda, digamos assim. Mas é claro que a gente sempre olha o mercado, todas as alternativas.

Nós temos o plano de seguir na racionalização das nossas participações societárias. Tínhamos, há poucos anos, 180 participações societárias em empresas, aproximadamente. Hoje temos 83 e a estimativa é que a gente termine o ano de 2021 com 49. Então, a gente tem buscado racionalizar não só com vendas, mas também incorporações.

A partir de agora qual o passo mais difícil até a capitalização?
São vários itens desafiadores. Talvez o mais complexo, que exija operacional e o trabalho muito intenso num curto espaço de tempo, é a questão da segregação da Eletronuclear, que tem em voga a questão de Angra 3. Então isso é um desafio.

Também a própria definição das premissas para definição da bonificação de outorga. Isso vai ser feito pelo CNPE [Conselho Nacional de Política Energética], mas a Eletrobras também tem que fazer a sua avaliação. Até para que a diretoria possa dar suporte ao conselho de administração e depois o conselho de administração subsidiar a decisão da assembleia.

Isso porque, na verdade, a palavra final da capitalização é da assembleia de acionistas da Eletrobras. Ela é quem decide no fim do dia pela capitalização ou não a depender de todas as condições de controle estabelecidas.

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