Crise hídrica reacende preocupação sobre GSF de geradores

Roberto Rockmann*

Quando o ministro Bento Albuquerque (Minas e Energia) assumiu em janeiro de 2019, reuniu-se com empresários para saber as prioridades. Escutou que havia duas. A primeira era resolver o GSF (Generation Scaling Factor, que representa o risco hidrológico) em relação aos débitos existentes no mercado de curto prazo.

A segunda: aperfeiçoá-lo estruturalmente. A Lei 14.052, repactuou os débitos atrasados sobre o GSF em 2020, mas o risco hidrológico e o MRE (Mecanismo de Realocação de Energia) continuam estruturalmente criando preocupações.

Desde 2003, o governo deveria ter feito revisões a cada cinco anos da garantia física das usinas. Só uma, em 2017, foi feita. Independentemente de crise hídrica, se as térmicas são acionadas a carga plena e as hidrelétricas geram menos, a novela do GSF ressurge. 

Nesse ano, a CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica) estima que o GSF fique em cerca de 75%, ­enquanto algumas consultorias projetam números ainda piores: 71%. Significa que as usinas só conseguirão entregar esse percentual das suas garantias físicas. Para 2022, a CCEE não projeta números, mas alguns especialistas estimam 78%.

No ano passado, o GSF médio ficou em 80,2%. Pelo terceiro ano consecutivo as hidrelétricas não vão conseguir entregar um volume considerável do percentual de suas respectivas garantias físicas, ou seja, do volume total de energia de que são capazes de produzir.

Isso traz duas preocupações. Uma é em relação aos geradores sem seguro. Não se tem visibilidade no governo e no mercado sobre quem fez ou não seguro e qual seria o montante descoberto. A segunda é que as geradoras terão de compor seus contratos futuros em cenário de estresse. Agora a liquidez é nula, e os preços estão chegando a R$ 350 o MWh para 2022. “Estamos esperando janelas de oportunidade”, diz o presidente de uma empresa com oito PCHs.

Nos anos 2000, quando se faziam ofertas pelas usinas, os lances eram feitos com base em 100% de energia disponível e em vender energia secundária. Hoje, risco hidrológico de dois dígitos é normal nas planilhas.

De 2000 para cá, o volume de venda de energia aumentou quase três vezes, mas não se adicionaram reservatórios. Se o armazenamento durava oito meses há 20 anos, hoje está em menos de quatro meses. As hidrelétricas, importantes na regularização do balanço energético, perderam atratividade diante de um setor em meio às mudanças climáticas. Mas a diversificação da matriz torna-as bastante relevantes.

“As hidrelétricas são muito vulneráveis aos efeitos adversos das mudanças climáticas e isso precisa ser colocado na conta de sua competitividade. Elas se tornaram belas adormecidas que merecem ser acordadas sempre que fizer sentido econômico e socioambiental.

O PLD horário melhorou muito o sinal econômico, mas a água hoje não é corretamente precificada por simplificações adotadas no modelo matemático em uso e por deficiências nos seus dados de entrada”, afirma Luiz Barroso, presidente da PSR e ex-presidente da EPE (Empresa de Pesquisa Energética).

*Roberto Rockmann é escritor e jornalista. Coautor do livro “Curto-Circuito, quando o Brasil quase ficou às escuras” e produtor do podcast quinzenal “Giro Energia” sobre o setor elétrico. Organizou em 2018 o livro de 20 anos do mercado livre de energia elétrica, editado pela CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), além de vários outros livros e trabalhos premiados.
As opiniões dos autores não refletem necessariamente o pensamento da Agência iNFRA, sendo de total responsabilidade do autor as informações, juízos de valor e conceitos descritos no texto.

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