Corrida eleitoral traz dúvidas sobre política energética

Corrida eleitoral traz dúvidas sobre política energética

Roberto Rockmann*

O índice de preços ao consumidor nos Estados Unidos teve alta de 7% em 2021 e chegou ao maior nível dos últimos 40 anos, com peso expressivo da energia. Do outro lado do Oceano Atlântico, a situação não é diferente. No Reino Unido, analistas estimam que as altas com as despesas residenciais com gás poderão subir 50% nos próximos dois anos. Nas estimativas de Greg Molnár, analista de gás da Agência Internacional de Energia, os estoques europeus estão 25% abaixo da média dos últimos cinco anos, o que eleva a vulnerabilidade do mercado de gás europeu e internacional em fevereiro e março.
 
Planos de socorro de governos para ajudar a população a pagar as contas e aumento dos subsídios começam a ganhar força em vários países europeus. O cenário tem tido reflexo sobre o Brasil: do reajuste de 50% de gás natural da Petrobras às distribuidoras ao recente aumento de 8% do diesel e da gasolina. Com os reservatórios das hidrelétricas ainda em recuperação, a energia térmica, com importação de GNL, continuará no radar em 2022 e 2023.
 
Com a corrida presidencial se aproximando, executivos começam a olhar o impacto da eleição sobre o setor de energia. Já se notam sinais de que a venda de ativos da Petrobras perdeu ímpeto. A venda das refinarias Getúlio Vargas (Repar) e Alberto Pasqualini (Refap) provavelmente ocorrerá depois das eleições. No mercado de crédito, quem busca financiamento tenta fechar as operações até fim de abril. Incerteza sempre é precificada. A eleição já tem impacto sobre o custo e terá ainda mais no segundo semestre.
 
O cenário internacional, a inflação em alta, o PIB estagnado e o desemprego também alto criam dúvidas sobre a política energética no próximo governo. Qual papel terão as estatais? O plano de desverticalização da Petrobras continuará? A estatal manterá o foco na exploração e produção no pré-sal ou ampliará investimentos em fontes renováveis como seus pares?
 
Bem-sucedida a capitalização da Eletrobras, poderá haver aporte do Tesouro para retomar o controle? Se a operação de capitalização não sair, a Eletrobras, que teve redução dos níveis de endividamento desde 2016, voltará a sonhar alto? Como fica a abertura do mercado livre e como será repartido esse custo? Qual papel terá o BNDES no financiamento? Haverá políticas industriais em energia solar e redes inteligentes?
 
Nesse mês de janeiro, entidades começarão a elaborar sugestões aos candidatos e desenhar debates com os assessores. Nem o PT, mais avançado na elaboração do seu programa, tem grande parte das respostas a essas perguntas. Lula se reunirá nessa sexta-feira com assessores econômicos. O candidato não fechou ainda um porta voz para o programa de economia. Só deverá acertar as linhas com o lançamento oficial da campanha. O esboço das ideias iniciais sobre energia ainda é desconhecido, mas o tom será dado pelo próprio Lula.

*Roberto Rockmann é escritor e jornalista. Coautor do livro “Curto-Circuito, quando o Brasil quase ficou às escuras” e produtor do podcast quinzenal “Giro Energia” sobre o setor elétrico. Organizou em 2018 o livro de 20 anos do mercado livre de energia elétrica, editado pela CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), além de vários outros livros e trabalhos premiados.

As opiniões dos autores não refletem necessariamente o pensamento da Agência iNFRA, sendo de total responsabilidade do autor as informações, juízos de valor e conceitos descritos no texto.

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