Com ociosidade de 80%, indústria olha renovações e autorizações ferroviárias com “otimismo cauteloso”

Danilo Fariello, para a Agência iNFRA

A indústria ferroviária brasileira olha para as renovações de contratos, as novas linhas autorizadas e as possíveis futuras concessões, como a Ferroeste, com um “otimismo cauteloso”, segundo Vicente Abate, presidente da Abifer (Associação Brasileira da Indústria Ferroviária), entidade que representa o setor.

Apenas as renovações já aprovadas ou em rito de avaliação pelos órgãos públicos representam R$ 65 bilhões em investimentos nos próximos 30 anos, sendo que 80% desse valor devem ser investidos nos primeiros dez anos após a assinatura dos contratos, avalia o presidente da entidade.

“Tudo está para acontecer nesses próximos dez a 12 anos, ou seja, as renovações, as novas concessões e as autorizações. Tudo isso é pensado pelo Ministério da Infraestrutura para garantir a ampliação dos atuais 20% para 40% de participação das ferrovias na matriz de transportes até 2035. Estamos com essa visão de que isso vai dobrar, de forma gradativa”, disse Abate à Agência iNFRA.

Segundo ele, embora o futuro pareça “alvissareiro”, o histórico da indústria de muita oscilação na demanda de um ano para outro faz com que esse otimismo seja mais contido. Atualmente, o setor tem ociosidade de 80%, considerando a capacidade instalada de toda a cadeia produtiva.

Pesa também nesse conservadorismo o fato de as vendas de vagões em 2021, ainda em fase de consolidação, ter ficado ao redor de 1.800, muito aquém da previsão de 2.500. Isso ocorreu porque as concessionárias não demandaram tanto quanto se previa.

Demanda na celulose
No entanto, Abate aponta iniciativas que estão segurando a demanda, como o setor de celulose, que tem investido na compra de vagões modernos, mais leves, mais protegidos contra vandalismo e com operação mais fácil. Entre os vagões que estão com boa demanda também estão aqueles no modelo double stack, que podem levar dois contêineres empilhados. MRS e Rumo já adquiriram esses modelos.

No caso das futuras ferrovias autorizadas, a Abifer está calculando a demanda, mas uma projeção prévia aponta para um prazo a partir de cinco anos para essas ferrovias começarem a ser instaladas. De início, a previsão é de demanda para a instalação das vias permanentes, com mais atuação das máquinas operacionais, fabricantes de dormentes – tanto de concreto quanto de aço –, soldagem de trilhos, grampos de fixação, entre outros insumos para construir as ferrovias, exceto os trilhos.

Trilhos importados
Abate disse que, na época do PIL (Programa de Investimentos em Logística), no governo Dilma Rousseff, chegou a estudar a instalação de uma fábrica de trilhos no Brasil, mas calculou que seria necessária demanda mais que o dobro das projeções de compra média ao ano de trilhos para os próximos dez anos.

“Em termos de trilhos, como o mercado é bem abastecido pelo exterior a preços competitivos e conseguimos zerar o imposto de importação junto com a ANTF [Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários] por não ter similar nacional, quem está precisando de trilhos vai acabar importando. Não acho, infelizmente, que o Brasil comportaria uma fábrica de trilhos”, disse Abate.

Mas o fato de haver uma previsão sustentável de demanda para os próximos anos de instalação de novas ferrovias pode abandonar a “montanha-russa” que foi o mercado recentemente, segundo Abate, como mostra o gráfico disponível neste link.

“Se estamos prevendo movimento de demanda de até 5 mil vagões em quatro ou cinco anos, que ela seja por um certo período e a gente consiga inclusive reduzir custos do equipamento, o que é bom para todo mundo.”

Esperança no TIC
Recentemente, a Abifer comemorou a volta do programa Reporto, que também ajuda a retomar a produção pela redução de tributos na compra de insumos. Depois disso, a principal bandeira da Abifer tem sido o apoio aos projetos de expansão de transporte de passageiros sobre trilhos em média e longa distâncias.

Abate espera ainda para este ano a publicação do edital do governo de São Paulo do trem de passageiros intercidades (TIC), entre São Paulo e Campinas, que pode ter investimento acima de R$ 10 bilhões. No âmbito federal, a expectativa é de haver uma nova Política Nacional de Transportes de Passageiros sobre Trilhos, em gestação no Ministério da Infraestrutura.

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