Atrasa a abertura do mercado livre de gás natural

Roberto Rockmann*

Mais um ano se inicia com indicações de que a abertura do setor de gás natural continua atrasada. A promessa do choque de energia barata, feita pelo ministro Paulo Guedes, continua aos ventos.  

Neste momento, paira uma discussão judicial sobre o reajuste, em média, de 50% da Petrobras nos contratos de suprimento de gás natural para distribuidoras que respondem por cerca de metade do mercado nacional. O mercado internacional vivencia forte volatilidade: depois dos recordes de preços apurados em outubro, houve queda forte nos últimos dias, mas ondas de frio em fevereiro e março poderão trazer novos problemas. Já o setor industrial brasileiro faz contas.  

No setor de vidro, energia responde por cerca de um quarto dos custos. Em embalagens, a demanda está em forte alta. Preveem-se investimentos de R$ 2 bilhões em nova produção. O impacto do reajuste dos preços para os consumidores estará nas planilhas. No Rio de Janeiro, o aumento foi superior a 40%, em São Paulo, de 23%. “Novos investimentos poderão ser redefinidos por conta desses aumentos, já que o gás tem peso relevante nas planilhas”, afirma o superintendente da Abividro (Associação Brasileira das Indústrias de Vidro), Lucien Belmonte.  

“O sonho da abertura se desfez com molécula cara e falta de livre acesso à infraestrutura. Quando se falou em queda de 40% do preço, era o prêmio do monopolista, mas não se avançou estruturalmente nem comercialmente. Há incertezas sobre o supridor de última instância.”

A Ecom Energia, que tem autorização para comercializar gás há mais de cinco anos, tem tentado firmar contratos para consumidores livres, mas o sócio, Paulo Toledo, não enxerga avanços no curtíssimo prazo. “O preço competitivo e a questão do livre acesso são barreiras”, aponta. 

Para o sócio da Gas Energy, Rivaldo Moreira, a abertura atrasou com a perda de uma janela de negociações que estava sendo desenhada entre junho e agosto do ano passado. “Os lados se sentaram à mesa, mas havia muitas incertezas, por exemplo as tarifas de transporte só foram divulgadas em dezembro”, observa. Agora ele analisa que a próxima janela deverá ficar para o segundo semestre de 2022, quando a curva entre oferta e demanda no mercado internacional ficará mais clara.  

Os próximos meses indicarão se o país ruma para uma transição entre um mercado de baixa concorrência para um ambiente livre ou de um ambiente marcado pelo monopólio para a formação de oligopólios privados em elos da cadeia. A conta poderá, mais uma vez, parar no consumidor.

*Roberto Rockmann é escritor e jornalista. Coautor do livro “Curto-Circuito, quando o Brasil quase ficou às escuras” e produtor do podcast quinzenal “Giro Energia” sobre o setor elétrico. Organizou em 2018 o livro de 20 anos do mercado livre de energia elétrica, editado pela CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), além de vários outros livros e trabalhos premiados.

As opiniões dos autores não refletem necessariamente o pensamento da Agência iNFRA, sendo de total responsabilidade do autor as informações, juízos de valor e conceitos descritos no texto.

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