Associação de ferrovias pede mais prazo e alerta para inconsistências em proposta de novo WACC

Dimmi Amora, da Agência iNFRA

A reunião participativa sobre a nova modelagem para o cálculo do WACC Regulatório (Custo Médio Ponderado de Capital Regulatório) para as concessões do setor ferroviário precisa de mais prazo para contribuições e está levando a resultados que podem impactar nos investimentos do setor.

É o que opinou o representante das concessionárias do setor, Fernando Paes, diretor-executivo da ANTF (Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários), no encontro promovido em 2 de junho pela ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) para tratar do tema.

“Parece contraditório que tenhamos aqui um WACC mais baixo, em alguns casos, que o WACC estimado nos EUA”, disse Fernando Paes, que pediu para que a consulta tenha 45 dias de prazo e não 12 como inicialmente previsto.

A ANTT abriu uma reunião participativa para dar seguimento ao processo de revisão trienal do WACC do setor, algo previsto desde o ano passado.

O diretor Felipe Queiroz abriu a sessão informando que o processo prévio ao da audiência pública que será realizada no segundo semestre faz parte do compromisso da agência com transparência, participação social e previsibilidade, o que traz “segurança jurídica para todo o setor”.

O gerente de modelagem da Superintendência de Concessões da agência, Paulo Roberto de Oliveira Júnior, fez uma exposição detalhando o processo que resultou na proposta apresentada. Segundo ele, ao final, a mudança resultará em três novas resoluções da agência.

Isso porque, além de mudar a taxa do WACC do próximo triênio a ser usada para estimar o risco dos projetos em novas concessões, renovações ou pedidos de alteração de investimentos das atuais concessionárias, haverá uma nova metodologia para classificar o risco do projeto em quatro categorias. 

Preocupação
Ao longo de toda a apresentação, Paulo Roberto ressaltou em vários momentos que a agência precisava de contribuições do setor para avaliar as premissas usadas e reconheceu que parte dos resultados chamavam a atenção na comparação com outros países.

Numa das lâminas da apresentação, ele mostra que o WACC dos projetos que forem classificados como de menor risco estaria no patamar de risco abaixo do usado pelo setor ferroviário nos Estados Unidos, um mercado segundo ele mais maduro.

“Isso deixa a gente preocupado e é um ponto de atenção. É um indicativo de que a gente possa estar perdendo o risco país aqui”, disse o gerente.

Não há ainda um WACC estimado para as quatro faixas porque ele só será definido com parâmetros que serão usados dois meses antes da publicação. Mas, pelos testes com parâmetros deste ano, o WACC da faixa de menor risco ficaria em 5,62%, subindo para 7,63%, 9,63% e 11,64% para o de maior risco.

Setor de commodities
Portanto, somente o patamar de alto risco ficaria acima da taxa que está vigorando, que é na casa dos 10,5%. A redução das outras faixas e o pequeno aumento na de maior risco aconteceu por uma mudança na forma de calcular o WACC que abrasileirou a estimativa de retorno aos acionistas das empresas, entre outros fatores.

Como há somente uma ferrovia listada em bolsa no país, a Rumo, a agência usava como parâmetro de retorno das empresas o mercado americano. Pelo parâmetro usado agora, serão avaliadas empresas brasileiras, mas não só a Rumo. Foram colocadas companhias que operam ferrovias, como Vale, CSN, Usiminas e Gerdau, para tirar uma média.

Além disso, foi usado um parâmetro específico para calcular a exposição do setor a variações de PIB, que indicou que, por ser uma área com muito transporte de commodities, ele ficaria menos exposto a flutuações do mercado interno e, por isso, teria um risco menor.

Negócios diferentes
O diretor-executivo da ANTF contestou o uso desses dados. Alegando que ainda é uma análise prévia, já que duas consultorias contratadas para checar os números da agência indicaram que vão precisar dos 45 dias de prazo para avaliar a proposta, Fernando Paes apontou que não é adequado usar as empresas que não são ferroviárias no cálculo.

“São negócios muito diferentes. Não refletem a operação ferroviária”, disse Fernando Paes, que também contestou o uso do parâmetro que privilegia o mercado de commodities, lembrando que os riscos do Brasil continuam influindo na execução dos projetos.

Fernando lembrou ainda que o uso da TLP como um dos parâmetros não reflete a forma de financiamento do setor, visto que a maior parte do financiamento nos últimos anos vem de operações do mercado, como debêntures.

Contrassenso
Além disso, ele lembrou que o risco aumentou no triênio atual com os aumentos de custos e taxas de juros, fazendo pouco sentido reduzir o WACC do setor neste momento, o que traz risco para os investimentos, especialmente dos novos contratos.

“As quatro ferrovias que estão no pipeline para renovar contratos têm situações diferentes das quatro que já renovaram. Elas têm tradicionalmente mais problemas de geração de demanda, com problemas de devolução de trechos e questões indenizatórias significativas. Olhar para um WACC menor nos parece, a princípio (…), um contrassenso”, disse Fernando, que foi o único com contribuição oral no evento, que pode ser visto neste link.

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