Análise: decisões que o governo precisa tomar agora podem impactar as tarifas no futuro

Roberto Rockmann*

A contratação de 8 GW em termelétricas a gás natural com 70% de inflexibilidade autorizada pela lei que permitiu a capitalização da Eletrobras, a conclusão das obras da usina nuclear de Angra 3 e as dificuldades financeiras das distribuidoras Amazonas Energia e Light poderão ser fatores de pressão sobre as tarifas nos próximos anos. Serão decisões que cairão no colo do governo federal, que terá de arbitrar essas futuras pressões, sendo que parte delas foi criada pelo Legislativo.

A Lei 14.182/2021, que autorizou a capitalização da Eletrobras, prevê a contratação de 8 GW de térmicas a gás natural, sendo que boa parte dos projetos poderá ser erguido em locais em que não há rede de gás. O governo tem de decidir se levará ou não adiante essa contratação, que deveria ter seu segundo leilão realizado ainda neste ano.

O custo de geração desses projetos poderia levar a um encargo que pode variar de R$ 3,51/MWh a partir de 2026, data em que deve entrar 1 GW no cenário mais otimista, a até R$ 35,45/MWh, quando os 8 GW estiverem em operação, no cenário mais pessimista, no ano de 2030, segundo simulações da Abrace (Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia). Com uma base fragilizada no Congresso, abandonar a contratação pode causar mais ruídos para a base governista na Câmara e no Senado.

A usina nuclear de Angra 3 é outro empreendimento que o governo terá de decidir se levará ou não adiante. Estima-se um custo adicional de R$ 20 bilhões para finalizar as obras e iniciar as operações da usina nuclear até 2029. O custo estimado para abandonar completamente as obras é de cerca de R$ 13,6 bilhões. Já a energia produzida pelo empreendimento é estimada em R$ 700 o MWh, quatro vezes superior ao preço da energia eólica e solar negociadas em leilões de 2022.

Outro ponto de atenção são as dificuldades financeiras da Light e da Amazonas Energia. Recomposições extraordinárias de tarifas e outros mecanismos de fazer os consumidores dessas áreas de concessão pagarem mais têm limites. Primeiro, pode-se elevar a inadimplência e furtos de energia. Segundo, aumenta a conta de quem paga e esse público pode migrar para a geração distribuída solar. “O mercado das distribuidoras entrou em extinção, mas, os custos estão em ascensão”, diz Edvaldo Santana, ex-diretor da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica).

*Roberto Rockmann é escritor e jornalista. Coautor do livro “Curto-Circuito, quando o Brasil quase ficou às escuras” e produtor do podcast quinzenal “Giro Energia” sobre o setor elétrico. Organizou em 2018 o livro de 20 anos do mercado livre de energia elétrica, editado pela CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), além de vários outros livros e trabalhos premiados.

As opiniões dos autores não refletem necessariamente o pensamento da Agência iNFRA, sendo de total responsabilidade do autor as informações, juízos de valor e conceitos descritos no texto.

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