Análise: crise de energia aumenta a gravidade em agosto

Roberto Rockmann*

Na semana passada, distribuidoras enviaram comunicados a grandes consumidores da classe A2 requisitando que eles tenham um plano de corte manual de cargas correspondente a 35% da demanda, “de forma a evitar um colapso no controle de tensão, violação de limites de equipamentos ou linhas de transmissão remanescentes”.

O comunicado deixou industriais apreensivos com o temor de piora do cenário hídrico e elétrico no período seco, ainda em seu início. Neste mês, a Petrobras faz uma parada programada de 30 dias para manutenção da plataforma de Mexilhão e do gasoduto Rota 1, interrompendo o fornecimento de gás para termelétricas.

Especialistas no setor elétrico veem o comunicado das distribuidoras como algo normal, dentro de um cenário que inspira cada vez mais preocupações sobre blecautes neste ano e o abastecimento em 2022. “Esses procedimentos de gestão de corte já existem, mas é um sinal de que o operador vai esticar a corda na operação de 2021”, segundo um atento observador.

Nos Estados Unidos, o operador da Califórnia já enviou neste ano seis alertas para os consumidores reduzirem suas cargas, para evitar a implementação de um corte de carga rotativo. “Está se buscando tudo para não faltar energia, o maior desafio é em outubro e novembro, mas ainda estou otimista e acho que passaremos raspando”, afirma outro.

A crise de energia subiu um tom em agosto. Na última semana de julho, uma comercializadora do interior de São Paulo já anunciou a clientes que está com problemas de cumprir seus contratos porque seu supridor não poderá entregar a energia contratada.

As chuvas foram fracas em julho e a hidrologia continua pessimista para agosto. A primeira semana se inicia com um Custo Marginal de Operação de R$ 2.540,18/MWh. Os encargos deverão bater recordes neste ano e em 2022, assim como as bandeiras tarifárias vermelhas nível 2.

Mas o clima nos ministérios da Economia e de Minas e Energia é de tranquilidade. Vê-se que o maior estresse poderá ser em outubro e novembro, mas as medidas atuais, como a gestão da vazão dos reservatórios e maior transferência entre regiões, devem evitar problemas maiores. 

A crise hídrica está apenas no começo. Não se sabe como os reservatórios encerrarão o ano e como será a estação chuvosa do próximo verão. Gestão e comunicação serão dois alicerces importantes para atravessar os próximos meses secos, em que os reservatórios tendem a perder até 4 pontos percentuais mensais.

Saber se comunicar com a população e as empresas será essencial, seja para pedir economia, seja para evitar que ruídos ganhem proporções maiores.

Em maio de 2001, ao assumir a Câmara de Gestão da Crise de Energia, os marqueteiros sugeriram ao ministro Pedro Parente que ele tirasse a palavra “crise” do nome do grupo. Parente insistiu para manter por entender que, se o objetivo era fazer a população colaborar, seria essencial deixar clara a gravidade do problema.

*Roberto Rockmann é escritor e jornalista. Coautor do livro “Curto-Circuito, quando o Brasil quase ficou às escuras” e produtor do podcast quinzenal “Giro Energia” sobre o setor elétrico. Organizou em 2018 o livro de 20 anos do mercado livre de energia elétrica, editado pela CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), além de vários outros livros e trabalhos premiados.
As opiniões dos autores não refletem necessariamente o pensamento da Agência iNFRA, sendo de total responsabilidade do autor as informações, juízos de valor e conceitos descritos no texto.

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