Acesso a terminais em Miritituba é preocupação para escoamento da supersafra de grãos

Dimmi Amora, da Agência iNFRA

A previsão de uma nova supersafra de grãos para o ano de 2022/2023 acendeu alerta no governo para a preparação das rodovias, ferrovias e terminais portuários para o aumento do volume que vai ser exportado. Mas as preocupações estão em poucos gargalos e, para o diretor-executivo do Movimento Pró-Logística de Mato Grosso, Edeon Vaz, a capacidade atual ainda é suficiente para a movimentação dos volumes ampliados em relação aos anos anteriores.

Segundo Vaz, a concessão da BR-163-230/MT-PA melhorou a rodovia, que é um dos principais caminhos para o escoamento da produção de grãos do Mato Grosso, o maior produtor do país, em direção aos terminais portuários do Pará.

Na semana passada, a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) aprovou o início da cobrança em duas das três praças de pedágio da concessão. Na outra praça, as obras iniciais não foram concluídas pela concessionária e, por isso, não houve pedido da empresa para início da cobrança.

Quatro ministérios vão alinhar em reunião hoje (7) ações específicas para facilitar o escoamento da safra agrícola de 2022/23. Participam do encontro os titulares das pastas dos Transportes, de Portos e Aeroportos, e de Agricultura e Pecuária, além de representantes do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Acessos a Miritituba
De acordo com Edeon, a maior preocupação atual está nos acessos às ETC (Estações de Transbordo de Carga) no Rio Tapajós, em Miritituba (PA). O contrato de concessão prevê a construção de um novo acesso para os caminhões a esses terminais no terceiro ano do contrato. 

A tentativa é que a concessionária seja autorizada pela ANTT a antecipar essa obra para o 1º ano, o que organizaria ainda mais a chegada dos caminhões, evitando que eles fiquem muito tempo parados esperando em pontos de parada ou em filas na via.

A capacidade dos cinco terminais de Miritituba é de 18 milhões de toneladas/ano, segundo Edeon. Foram movimentadas 13 milhões em 2022. A estimativa é chegar neste ano a 15 milhões de toneladas. 

“Foram feitos pátios de triagem, tem uma organização, mas é preciso um acesso novo. Para este ano não dá mais, mas temos que trabalhar para o próximo”, disse Vaz, lembrando que não há preocupação com restrições de capacidade nas ETC. “Ali é privado. Se eles sentirem o cheiro de que não vai dar, eles já se preparam para aumentar a capacidade.”

De acordo com dados do Imea (Instituto Mato-grossense de Economia e Agropecuária), as safras de milho e de soja vão crescer 3 milhões de toneladas em relação a 21/22 e alcançarão 88 milhões de toneladas no estado. Os relatórios do órgão estão neste link.

Já a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), do governo federal, projeta um crescimento da safra total de grãos do Brasil para “310,9 milhões de toneladas, sinalizando incremento de 14,5% ou 39,3 milhões de toneladas. Destaques para a soja, com aumento de 21,6% (27,2 milhões de toneladas), [e] para o milho, com 10,5% (11,9 milhões de toneladas)”, segundo o mais recente Boletim da Safra.

Preocupação do ministro
Esse crescimento da safra, que em um ano pode crescer mais que a soma do crescimento dos últimos três anos, é motivo de preocupação do novo ministro dos Transportes, Renan Filho. Numa apresentação sobre o plano de 100 dias para o governo, realizada em janeiro, ele afirmou que o foco era a recuperação de rodovias que são usadas para o escoamento da produção.

Os baixos investimentos em manutenção de rodovias ocasionados pelas restrições de orçamento do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) nos últimos anos levou a uma piora generalizada na conservação das rodovias federais. 

Segundo Edeon Vaz, no caso da produção do Mato Grosso, o outro caminho para o escoamento é a BR-364, em direção a Rondônia, onde o DNIT realizou uma intervenção de manutenção profunda recentemente, o que deve manter a rodovia transitável neste ano, mesmo sem intervenções para ampliação da capacidade, previstas numa concessão em estudos pelo governo.

O mesmo acontece com o escoamento via caminhão para os portos do Sudeste do país, onde as rodovias estão concessionadas, mas sem realizar investimento enquanto aguardam a finalização dos processos de troca de controle. Para ele, com a manutenção das concessionárias e o modelo de agendamento de caminhões para acesso ao Porto de Santos (SP), não deve haver gargalos.

Ferrovias sem mais capacidade
Já em relação ao escoamento por ferrovias, Edeon Vaz não acredita que seja possível para este início de safra ampliar a capacidade de transporte da Rumo Malha Paulista, que está em 35 milhões de toneladas/ano. 

A Malha Paulista é o acesso das cargas que saem do Mato Grosso pela Ferronorte, também da Rumo, para o porto de Santos. Parte dos investimentos previstos para dobrar a capacidade da Malha Paulista estão atrasados em relação à previsão de 2020, quando o contrato foi renovado em troca de ampliação da capacidade. As obras de ampliação da ferrovia interna do porto também não começaram.

Além disso, Edeon também lembrou que a Ferrovia Norte-Sul não deve ter complementada no primeiro semestre a obra que vai conectar o trecho entre Estrela D’Oeste (SP) e Rio Verde (GO), que funciona em conexão com a Malha Paulista, com o restante da ferrovia que vai até o Maranhão. A expectativa agora é que seja concluída no segundo semestre.

Impacto no frete
Thiago Pêra, coordenador da Esalq-Log (Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial Departamento de Economia, Administração e Sociologia da USP), diz que os gargalos com a logística vão aparecer porque o país antecipou em 10 anos a estimativa de produção de grãos acima de 300 milhões de toneladas e porque entrou no mercado internacional do milho.

Segundo ele, além de impactar a infraestrutura, esse novo patamar de produção também está impactando o preço dos fretes, especialmente porque os fretes de grãos se concentram no primeiro semestre do ano. Se no último ano os preços de fretes rodoviários chegaram a níveis recordes, em função principalmente do choque de preço de óleo diesel no mercado internacional associado ao real depreciado frente ao dólar, neste ano há um desafio adicional:

“Neste ano, temos também um efeito de aumento de demanda de transporte no país que é o escoamento dos grandes volumes projetados de grãos”, disse Pêra, lembrando que o ambiente segue sendo incerto por causa da guerra na Ucrânia e da demanda chinesa para importar grãos.

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